terça-feira, 30 de setembro de 2008

Vinho

Entre mim e a mulher o amor é a sombra
que bebe vinho e, se não lembra, soma.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Uadi

Falar de Scherazade é não tê-la visto.
Dizer que ela é igual a ti
e assim chamá-la sem a mira,
é adiá-la sempre ao crepúsculo do dia.

Mil e uma são as Scherazades,
se quiseres falar com verdade.
Dar a ti as mil faces
é não te saber una.

Se fosses uma não te a quereria.
Mas como sois todas elas,
quero a ti todo o dia.

Assim como fazer de ti a noite nua.
Descortiná-la em todas as tuas faces
& frestas, as ruas plenas antes vazias.

Sempre novo para que assim me aches,
em quatro e sete fases de tua lua.

Que não te falte aquele olhar,
que através das noites sem luar,
de rubro a tenda inflama &
no rubor da cama em seda,
a luz de tuas luas derrama,
e ao corpo-cálice entretece.

Em marés de frêmito
a alma enlanguesce.

Lembra-te do mito
que ao mar do amor
foi dado imitar o rito
enquanto vela &
ao corpo dela
entumesce.

Laço

Paráclito em nível ínclito.
Lado novo do velho, farto.

Tão somente o ir ter de fato,
com a natura após o parto;

Não há o que se não muda.
Vêde luz ante a matéria surda,
fazer-se cega frente ao desatino.

Oriundos da sede deste menino
como no silêncio da relva o leão,
nem repara que a sorte da corça,
no calor da noite, domina e força.

Tempo em ordem toda ab-surda,
a tramas solitárias não confundas
com as tuas, ainda isso surja
como lembrança nos vasos anímicos.

Laços de afeição em reparos rítmicos
reparam-se em estado de pura libido,
belas linhas tinham ilhas e seus istmos.

Inda quando dirigias-me ao nobre porto,
sendo a nau o meu e o véu o teu corpo,
tingias de ouro mel o vêlo do meu copo,
em delírios de lábios que me deixam torto.

Não lembras daquela tarde sem sombras?
Que o marulho das ondas em ondas,
saibam a ti fazer voltar. Compridas mãos
abrangem como raro estuário.

Nenhum mortal foi páreo
de cinzelar-te em rimas.

Quando do troféu te encimas,
não há o que se torne aéreo.

Mas quando deixas de queixas,
embora indo e te traga de volta,
tendo os versos como escolta e,
voltes agora esquecida das rixas.

Como nobre olfato tem o tigre,
e o vento favoreça a sua sorte,
fareja a vida a trilha da morte,
toda a procissão da plebe grei.

Em dias os quais ocultas,
o rastro doce do vinho insigne,
traze em signo noites devolutas,
mesmo que acordar te indigne.

Que isso a cultura ensine:
Faz colheita dos cachos da vinícula,
fogo alteado em fachos, viva a uva!

O teu altar ao frio não condene, mas,
volve o teu ímpeto de volta ao delta.

De puras liras a noite abraso.
Somente uma é para mim um vaso.

Furto-te às encondidas com sérios visos.
Vê-la caber no forte abraço.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Fulgiens

Fita a fronte a sua mente.
Como o que em ti sente,
Possa você passar rente
Às ranhuras de cada ente.

Descontínuas superfícies
Do real que se paramenta
Em ir e vir. Lembra-te:
O que és inerente a ti, é.

Veste o nobre semblante,
As augustas fácies, pois,
Veículos não são automóveis.

Livra do rosto o olhar evidente,
Mas se to delinear sua amante,
Beija-lhe ali o lábio, ó excelente.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Fragrância

Essência tênue de citronela,
Perfume etéreo e feérico.
Evola em tom esférico,
Átomo de si e da cidadela.

Ilustre e magnífico licor,
Hidro-mel de hoste prolífica.
Empresa, sobretudo pacífica,
Da colheita do fruto em cor.

Gracioso vai do sono ao templo,
Ante o silêncio e despe a camisa.
Tão somente do alento precisa,

Quem ao raro e puro contemplou.
Seja o libelo caro, anelo de outro.
Astro vindo de não sei quê ouro.

Rústica

O que há de melhor no mundo?
Qual a mistura certa do eventual?
O tempero na medida onde está?
Os céticos desesperam do factual,

Outros não querem ir mais fundo.
Malversações sobre o não habitual,
Quê por advir, se o nada sobrevirá!
Atual mistério maior que o Graal.

No plenilúnio iluminado pela ânfora,
Perguntou-se, o sujeito: há jeito,
Saberá ser o odre novo capaz, [rústica],

[Técnica] De suportar o vinho velho da ânsia?
O receptáculo deixará esvair a cânfora,
Ou suportará o brilho e a acústica?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Koré Kósmou

"Whereas the east, O Horus, great in glory, in that 'tis thrown into confusion and made over-hot by the continual risings of the sun, and in like fashion too, the west, its opposite, in that it suffers the same things through its descents, afford the men born in them no conditions for clear observation. And Boreas with his concordant cold, together with their bodies doth congeal the minds of men as well.
Whereas the centre of all these being pure and undisturbed, foreknows both for itself and all that are in it. For, free from trouble, ever it brings forth, adorns and educates, and only with such weapons wars--on men--, and wins the victory, and with consummate skill, like a good satrap, bestows the fruit of its own victory upon the vanquished".

Emulação

Forte êmulo, esse que exerce seu empuxo sobre espíritos.
Quão pouco puderam contemplar em jogos, os perdidos,
Vãos entretenimentos abertos a custa dos sentidos verdadeiros.
Perdidos em jogos como em lúgubres espelhos,
Os que refletem errado sobre o neutro picadeiro,
Se ao conteúdo esquecido não ligam o paradeiro.
Do que vai no peito, o anseio, do tempo perdido,
Donde havia abrigo para o mais sincero anelo.
Espera você! Ai de ti! Quem vem lá?
Não mais sob tristes órbitas habitarás.
Dessa partida a natureza está farta.
Pelas murchas flôres trocou a horta.
Penitentes olhos seguem de soslaio o nome nas criptas.
Ainda o fôsse com os oiros e não com as copas...
Figurativa a folhagem pende de árvores mortas,
Tão fácil é fazer versos tão longos por essas paragens
Ensurdecedoras da palavra que não encontra o rumo.
As horas espraiam na litania do odorífero e patético fumo,
Aos que entretecem em perguntas tétricas miragens.