Abrigo dois leões ao meu peito.
Se as mãos enlaçam com jeito
faz-se presente a doce epifania.
Noite de minha agonia
deserto de alma onde em vão procuro,
onde está aquela sintonia
que me vem libertar do claustro escuro?
Agora lembro-me bem.
Se tudo já eu não trouxesse fora de mim
estaria tudo em alguém,
um simples botão de rosa e a vida é carmim...
Essa ânsia não é correta, sinto-me aquém,
assim, a noite passa,
alastram-se minhas cercanias, mas não me sinto além,
o corpo é uma farsa;
Tão bem temperado é cravo que me ata,
e os cinco sentidos que me limitam,
queriam pagar o homem com o que o mata,
não é à bela coisa o que imitam,
tecelãs de si, as pobres almas?
Ama os fios quem não os doura,
Ama os fios quem não os doura,
criança loura,
tens os finos pontos em laços, tua manta,
lavai teu rosto, refaz-te pia e levanta!
Que é que sabe a tua mão macia
da potência ativa de te produzir a túnica?
Por que cada face é, enfim, única
se a silhueta robusta da maçã dura só um dia?
A música, vida dos homens, estende a melodia.
O fio de prata na horizontal parte,
segue o curso do rio e pressagia,
que a luz dos olhos não soará feliz sem arte.
A chuva cai, como o destino pesa a forte harmonia!
Na queda o fado, acompanha o ai,
No solo busca as molas para a branca nuvem enlaçar,
os seus cachos encaixam, e por instantes perde o ar...