segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Seele

Quanto à simultaneidade há uma distância mínima que me mantém separado de ti no espaço e no tempo, um nada. Uma linha muito sutil que divisa sem ser algo espacial, esse lugar no tempo, aquilo que se fez latina chamar de alma, e que em verdade, é um sacrário bendito que faz intuir como unidade aquilo que é um só com o que se toca. Um fio de seda ato-contínuo, em uma roca, fiando a tela de laços e nós contidos, tecedura de ligas na memória contínua qual a porção de fluido na cisterna. Eterna como a noite.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Arquivo

Em meu coração um universo expandiu-se em distâncias.
Sublime sopro de espírito inflama de súbito a recâmara.
Tudo que há de mim é o positivo adro onde reclama,
a tâmara e o oásis em noite outrora senhora de estâncias.

Inda bem que à alma é dado conter
a desintegração nos limites do corpo.
Sem que o espírito seja igual ao éter,
ainda que disperse tão fluida a poesia
faz de si a conta no fluído de seu sopro.

A ingratidão para com a vida, a heresia,
é do se crer unidade em si na condição
do perder-se a parte em mil pedaços.

Se percebo o olhar
perco os olhos de vista.
O olhar adianta-se aos olhos.

O corpo é o sósia que não é em si mesmo.
A divisa peremptória que no seu contorno
se deslinda à grandiloquência, no mínimo
eterna da brincadeira aleatória dos traços.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Ruf des Gewissens

O mundo não é uma caixa de utensílios.
É uma maré de almas em conflito e faz,
senhores em conselhos onde não há paz,
a sombra de inúteis asseclas em concílios:

eis a política, mãos dadas com a economia.

Eu amo a guerra & adoro o fogo -
elemento primordial do jogo.
Senhores, jamais me revelarei.

Crescente fértil

Sonhei, e nisso havia um ritmo.
Um cheiro misto de flores e sol
enternecia ela que a frente jaz.

Torno para ela o olhar e se desfaz
a procissão contínua ao pé da hera.
Era o brilho último do puro crisol.

Faleci de uma vez dos outros sentidos.
Ficou só a olfação a seguir a pele rente
ao chão o odor era pó e polém recente.

Da cor da estrela o teu fôlego evadia.
E retornava azul que nem a lua cheia.
O teu corpo era coro com meu coração.

Assim sentia que via que teu gozo
eclipsava as tuas sinceras órbitas: 
ebulição em suor & abismo aos pés, 
lágrimas, saliva, água, ar, que és?

Algo mais em fogo & do espírito
que participa de toda natureza,
com teu par, teu corpo de terra,
barro onde as coisas precipitam.

Tudo isso não te delimitava nem
eram o total de teu ser de delícia.
Para ti, me desdobrei em malícia.

Fenícia, tu és a fonte pura de-gustação.
O teu limite é a profundidade limítrofe,
ponto que não revela a relação, estrofe,
pobre destino de minha sincera canção.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Enquanto estudava

"O artista não cria como vive,
mas vive como cria" - Lescure.

Surgia nele um traço de insânia
tornada prazenteira como que por força do hábito
que já nascera velho, estranhamente velho;
de quem repete a mesma frase e rigozija,
como quem goza duas ou mais vezes no verso
da mesma posição.

O método é todo invenção?
Creio que não, que coisa técnica o método!
Não há poesia se não houver criação de todo.
Já que a rima é uma alma
que espera pela forma.

Se as vezes rompo com a rima e a métrica
e sigo feliz em ver-lhe a ressonância,
o que ela dispersa a repercussão aprofunda.

Aos ventos atira o rio que corre leito
até que o percurso leve ao mar que o traga.
As sementes atira-as ao chão e a funda,
corre-lhe nos dedos o que no homem é discurso.

Existimos enquanto falamos,
o não-ser que protege o ser -
o falante é todo o sujeito.