sábado, 14 de dezembro de 2019

Sophia rediviva

Ego sum qui sum = to sôma heliakon = sat purusha

gnoti seautôi te kai [et sapere aude] sôphrosynê

A única coisa que não perdemos
é aquilo que nunca temos.

Pois, logo que a tenhamos,
a perdemos.

Amor é desejo de algo que nos falta,
e assim como não se aprende
aquilo que de todo alguém ignore,
o que se visa é a beleza mesma
que se viu,
quando não se a vê.

Isto é esquecer que somos esquecidos.
Não ser, não saber,
ser opaco e sem verdade.

Recordar-se a própria indigência,
como condição congênita:
de que seja o esquecimento o corpo
que embota a visão presente.

O juízo que as imagens cambiantes
visa imobilizar, lança-nos fora da clareira,
onde cada coisa se mostra como é: nua,
em sua presença,
quer na voz ou em silêncio.

A presença que nenhuma palavra lavrada traz,
em cuja ausência, não somos.

Verdade é o gozo de alma e corpo,
quando não se separam no ato
e a alguém inflama o espírito.

Secreto rito,
a filosofia.

Fuga do mortal, Sophia, não se a toca,
nem vê,
nem se a perde,
por nunca alguém tê-la.

Sem o véu, mortal algum
um dia a viu,
sem estas vestes,
espere alguém um dia vê-la.

Ela é a verdade
que abre e é o próprio caminho,
inicio, estado e fim:
eterno processo,
com o perdão da expressão.

Qual Dafne para a Apolo,
que era todo alma e furor,
ela toda um corpo inteiro,
cuja canção, o teor nos escapa,
enfeitiça-nos o pobre engenho
e o coração temente cava.


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