Desejo falar sobre isso, e desde o início me pergunto de que sinto falta. Talvez tenha que ver com ser isto algo de que tive a experiência direta, cujo conhecimento não advém de uma leitura como a maioria das coisas que julgo saber. Exponho, assim, a partir da referida experiência, menos para fazer ver minha perspectiva que para tornar manifesta a própria coisa, e para esse fim é que dialogo com a literatura. Os êmulos de Martinez de Pasqually, no princípio de suas atividades maçônicas, chamavam La Chose qualquer coisa indescritível que se manifestava por efeito dos passes do teurgo. Trata-se do phantasma de que falam os antigos, pequenas irrupções da luz astral na luz que nos é conhecida no estado desperto, a luz que nossos olhos captam em movimento e que origina a percepção visual. Seria a luz que captamos circunstancialmente originada nas coisas? Seria ela produzida antes em nós e contataria a luminosidade exterior, as emanações das coisas? Ou nos nossos processos vitais produzem, entre outras experiências, aquela que à superfície ocular, um estranho brilho torna-se afim e receptiva da forma das coisas? Sim, porque já nos disse Aristóteles, recebemos a forma das entidades visuais sem a matéria (De Anima, II). Com o fogo verás o fogo. A primeira experiência que disso tive foi de Jaga, espécie de mentor do desenho animado que assistia infante. Era tão novo que a visão fantasmagórica de um ente não físico, uma aura de azul prateado!, uma figura diáfana, terá tido a aptidão suficiente para impressionar-me o sentido interno. A visão dera-se como continuação da cena do sonho que tivera. Ao acordar, mantidos os olhos abertos, enquanto não me mexi a cena continuara projetada no ar, nitidamente situada antes e não colada ao guarda roupas de minha avó que lhe servia de fundo. A duração de tal visão tem em si algo de impressionante. Esqueci-me dessa experiência até que o processo analítico de autoconhecimento fê-la despertar em paralelo com outra experiência. Certa tarde, um sonho no limiar da vigília foi o suficiente para convencer-me de que é possível acordar em um sonho. É muito comum acordar em um sonho e somente depois perceber-se que ainda se está a sonhar. No meu caso, como me percebi no limiar da vigília, acreditei que poderia, enfim, acordar e estar consciente no sonho. Não lembro se no mesmo dia ou no dia seguinte, tal efetivamente ocorreu. Vi-me acordado no sonho, dobrado sobre mim mesmo, como que sentado, uma réplica de luz e nuvem e som arrastado de meu corpo que permanecia deitado. Tentei levantar-me, porém, não era a mesma dinâmica do estado desperto que comandava o movimento. Nesta impossibilidade, restou-me apenas acordar. Porém, na ânsia de despertar, voltei a dormir e acordei no sonho novamente, desta feita em um estado de catalepsia projetiva, o meu corpo astral, minha réplica luminosa imantada pelos astros, girava em torno do eixo situado entre as minhas sobrancelhas. Quanto mais desesperadora me parecia a coisa, mais distante a sensação de que sairia daquele estado. Até que com uma paz serena qualquer coisa em mim alertou-me que era algo quase que mecânico aquilo e logo em seguida despertei. Procurei, então, literatura para aquilo. Acessei a rede, e alguns arquivos de texto havia, entre os quais de autores brasileiros, coisas entre o espiritismo e o ocultismo. Essa pesquisa levou-me longe, muito longe. Logo participara de um grupo de estudos sobre assuntos não usuais em minha cidade. Fui tornado por uma amiga, grande amiga de minha namorada em uma espécie de figura de autoridade. Isso porque lhes falei destas coisas. Certa feita, um amigo do Rio de Janeiro veio nos fazer uma exposição. À noite falou-nos das experiências de seu grupo: eles costumavam encontrar-se em algum ponto turístico da cidade e o exercício eram descreverem uns aos outros após cada encontro. Fiz-lhe algumas perguntas e ele muito solícito as respondeu. Àquela noite tive a impressão de ter sonhado com o seu grupo. Convidado fui por essa amiga para fazer uma palestra virtual sobre viagem astral. Não hesitei. Era como se eu tivesse algum saber sobre aquilo na prática, teórico nenhum. Seja como for apresentei o que me foi sendo inspirado pelo momento. Havia muita gente na sala. Perguntas pertinentes. A coisa desatou de um jeito. Digitei por umas duas horas, ao fim das quais responde a perguntas na sala. Outra pessoa, que se tornaria a amiga mais antiga que tenho a honra de conhecer, me fizera algumas perguntas em privado. O seu tom era cético, sóbrio e bem humorado. Outra coisa notável que ocorrerá foi citar duas passagens de filósofos da antiguidade que nunca havia lido. Citei-os sem saber que as frases eram suas: Parmênides e Empédocles. Hoje percebo que têm em comum serem místicos e falarem de coisas das quais hoje não se fala. Talvez esse evento seja um verdadeiro fio condutor a minha vida, porque leciono hoje a partir de suas obras. As frases são deveras pertinentes aqui de modo que as cito: o semelhante ama o semelhante, o ser ao ser adere. ... com o fogo verás o fogo...
À essa altura estava muito empolgado. Havia encontrado literatura pertinente. Não livros, qualquer outra coisa, na maioria dos casos. Levava à sério um conjunto de exercícios com que me deparava e outras técnicas adivinhava. Certa noite, dormi no quarto dos meus pais, diante de um relógio de parede. A técnica consistia em relaxar o corpo, afrouxar os músculos o mais possível, afundar na cama progressivamente, devido ao próprio peso conscientizado, e deixar que a transição entre a vigília e o sono viesse, como uma espécie de queda que parece atravessar o colchão e que decorre em um infinito fluido que nos ampara antes do fim, quando há uma solução de continuidade e o mais das vezes se cai a sonhar. Sonhos frenéticos, muito conteúdo, transcorrem os elementos de um sonho a outro, em uma grande sucessão, como se os sonhos estivessem tão colados uns nos outros como as folhas de um livro. Não raro um elemento atravessa as páginas sedosas que separam os sonhos e se desdobram a si em outros contextos. Outras vezes, quase ignorada essa quantidade absurda de sonhos em sucessão, na travessia de um estalo, se acorda já no astral, tendo o corpo astral como sede para aquele tipo especial de consciência que nesse estado se verifica. A diferença entre os estados de alma é gigantesca. O pensamento não é, como no estado desperto, um processo, um diálogo contínuo, uma sucessão infinita de perguntas e respostas, ou um desfile de opiniões ou valorações sobre os fenômenos percebidos. É antes uma calma, um repouso. Um estado de indistinção. Alguém sabe o que sabe não como resultado de um processo, porém, antes como permanência em um estado. Podia dizer que é como sentir diretamente o que se sabe como parte de si. Talvez como comunhão em algo, seja como for não como um estado dual da mente, em que se reconheça um sujeito e objetos externos. É um estado de clareza e convicção silenciosa. Em um estrato muito superficial da experiência as coisas percebidas, por algo similar ao sentido da visão, que porém não é limitado pela disposição fisiológica dos olhos, capta a silhueta e também o corpo das coisas como assinaturas luminosas, os limites das coisas tem qualquer coisa que é macia e que suaviza as arestas, é como um sentimento de coisas que possamos atravessar desde que a crença correta nos anime naquele momento. Que serão resistente ao toque apenas por uma espécie de deleite para alguém que na superfície queira provar-lhes. É aqui que se nos perguntam como se origina essa luz e que natureza possui. Respondo com uma terminologia alquímica-astrológica. As expostas à luz solar e ao reflexo lunar encontram-se saturadas e imantadas por forças invisíveis que as atravessam e que nelas deixam uma impressão, uma assinatura: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, e a própria Terra que nos envolve com o magnetismo que lhe é próprio. Nesse mar de luz e eletricidade as coisas vibram e seriam menos fixas ou concretas se não fossem nossas crenças tão obtusas quanto a ideia daqueles pensadores antigos para quem a única entidade é o corpo (ver Platão, diálogo Sofista). Também o nosso olhar, como seres imersos nesse mar de vibrações e afetos deixa nas coisas sua assinatura, nos corpos e nos entes se encontra a afeição e o ódio, que selam as simpatias e antipatias presentes, tal o pathos das coisas. Luz polarizada, feixes de luz livre (od) e luz passiva (ob), tendências contrárias que ora se repelem, ora se atraem, ora se entrelaçam equilibrando-se. Uma mesma luz que solve e coagula, que se torna tão corpórea quanto possível, condensa-se no tempo e no espaço ou que se sutiliza o suficiente para passar a outra faixa de manifestação, inacessível aos sentidos físicos. Harmonia invisível é mais poderosa que a visível, diz Heráclito.
Então. Certa noite, após uma experiência singular, fiz um voto de serviço. Ato contínuo, acordo em estado de projeção astral. Havia sido tal passagem da vigília para o despertar no sono demasiado rápida. Ante a minha cama estava um espectro luminoso, a aura azulada, o manto branco acinzentado, translúcido, a expressão de ancião, a voz argentina que não comunica palavras, senão um entendimento simultâneo em minha alma, tão logo que era endereçada. Era um convite para o serviço e uma prova. Era como se todas as etapas anteriores tivessem sido cumpridas. Já havia adquirido uma desenvoltura tal que me era possível sair pela janela ou examinar os quartos da casa livremente, sem acordar na vigília. Essa maestria estava ligada a relação com a emoção e o sentimento. Havia entendido que o astral respondia ao desejo e que o que atravessava o estado de alma e o impossibilitava era a memória ou qualquer sentimento muito forte relacionado ao corpo ou dependente da ideia de corpo. Quando digo que o corpo astral é um corpo de desejo, isto se deve a que uma vez concentrado o desejo de fazer-se algo ou ver alguém, por exemplo, imediatamente se é conduzido, salvo as circunstâncias que o impeçam para a vizinhança disto a que o coração, no seu sentido interno e metafórico anelou. Longe está o ocultista de ter uma visão tão redutora da força que conduz o ser humano a mover-se e a realizar seus desejos e aspirações. Trata-se de uma energia que funciona como um elo intermediário e que possibilita a relação entre duas instâncias que estariam antes separadas sem ela: o físico e o psíquico. Muitos riram de Descartes, um iniciado Rosacruz ao ouvi-lo falar, após separar as substâncias corpo e mente de uma glândula pineal que as reuniriam, haja vista a linguagem científica do XVII. O trono da alma, risos. Além disso, aquilo que um artífice planejou em sua mente, ele molda no físico conforme seu desejo e na medida do possível. Sua libido liga o exterior a imagem interior. O astral é aquela faculdade sem órgão a que Aristóteles chama imaginação (phantasia). Ele possui a elasticidade e maleabilidade suficiente para imprimir no fluxo natural os padrões geométricos que estão na alma, respeitada a indeterminação e a variabilidade da matéria! [O erro dos ocultistas é não supor entre a geração e a criação, esse intervalo de possibilidades que é o astral.] Tudo quanto se realiza se apoia em um ternário. Corpo, astral e mente é uma de suas variedades. Assim como o corpo é para nós sólido e nos oferece aquele abrigo primário do colo de nossa mãe, e quanto nos faz sentir vivos, e a mente que ainda que se nos afigure coisa estranha e para muitos um epifenômeno, o astral é a analogia entre o físico e o não físico, pois participa de ambos, do inteligível tem a força diretora que preside inclusive a forma de nossos corpos tal como sonha-nos nossas mães, e do físico tem as impressões que das coisas recolhe e que mantém como assinaturas e clichês de pensamentos, palavras e ações. Tais coisas perduram um tempo ainda maior que os corpos muitas vezes. Se poderia perguntar: onde? No fluido da memória, de que é feito esse fluido? É um fluido nervoso. O simpático e o parassimpático são uma grande testemunha disso tudo. Um fluido que tem um lastro no físico e que, não obstante, se move à velocidade da luz! Sinapses! O que dirige algo em uma direção?
O guardião
Há uma expressão na antiga iniciação: o guardião do umbral. Trata-se da experiência de morte simbólica que se opera de maneira real na vida dos indivíduos que seguem esse caminho. Hoje, quinta feira, ceia mística dos Cavaleiros Rosa Cruz, encontrei um livro antigo, um verdadeiro banquete, quando o recebi, soube que pertencia a um saudoso professor nosso, grande pai comum aos estudantes de filosofia, como CRC. Trata-se da referência precisa a questão que aqui está sendo posta, de como há seres no astral que trazem consigo um chamado, uma vocação.
Lembrei-me hoje do antecedente do encontro com o guardião. Em uma das tentativas de desdobramento astral, que não era bem uma tentativa, antes um despertar na manhã que se transformara em um despertar em sonho, antes de me mover, se colocava a alternativa: acordar ou continuar em "sonho" e explorar os arredores. Assim, pude ouvir como que estivesse perto de mim, o choro de uma criança, que acreditava eu estar situada como que no bairro onde morava. Ela poderia estar em qualquer parte, porém, o som do choro se estendia pelo astral. Recordei isso ao ouvir o choro de uma criança que sempre chora no prédio ao lado e entendi que, nas duas ocasiões em que encontrei meus pais em suas contrapartidas astrais, pudera eu estar procurando-os ali por não terem eles estado na vigília próximos. E que a tentativa de socorrer ou servir ao próximo por aquela via, algo a que me chamou o choro da criança pudera ter sido o ato precursor do dispor-me a tal coisa, para que a presença do guardião me inquiria se estava, enfim, preparado para as consequências daquilo mesmo que solicitara. E não estava, só depois o soube.
A questão era a emoção. A atenção deveria estar concentrada no estado anímico estável, não dialógico, em que alguém vê a luz astral ou através da luz astral. Os antigos chamavam a esse estado, aquilo que no auge das iniciações era a visão integral, epópteia, visão sinótica da condição ou instância em que estamos despertos, ao lado de outra visão, portanto, a dupla visão de que falam os Irmãos iluminados da Rosacruz, que conjuntamente com a palavra do maçom, era reconhecido como o verdadeiro tesouro confiado ao peito fiel e ao ouvido atento pela língua instrutiva. As poções como o soma permitiam ao neófito contatar, com o amortecimento momentâneo do corpo, liberada a atenção para o veículo superior à mente, no inteligível já, não nesse estado em que mantemos a aparência de um mundo firme e estável às custas de nossa crença na materialidade e do nosso esquecimento de que aquilo que vemos é um fluxo, um processo sobre o qual incide a nossa atenção. A manutenção da sensibilidade é um custo enorme ao aparelho psíquico e impede o deslocamento da energia vital para a sede do pensamento, a inteligência não dualista, não cindida em sujeito e objeto. Isto é a visão integral, a atenção em seu estado pristino. Preste atenção (prosekein ton noun)! Nele nenhum esquema sensível ou representação está impresso de maneira fixa, pois também as impressões estão situadas, se assim podemos dizer, naquela parte menos criativa, porém mais sensível e receptiva que é a memória, em parte lastreada no corpo e em parte na própria luz astral em estado latente. Ora, o corpo da terra é lócus de todas as experiências vivenciadas e de que se pode ter a recordação os seres humanos enquanto terrestres, logo, não há necessidade de buscar um lugar para isso exclusivamente em uma célula, um corpo humano, envolvido por esse grande vivente, essa grande alma, a Terra! Digamos assim, então. Ao neófito era oferecida a experiência que permitiria colocar em suspenso a crença de que a vivência sensível e cotidiana do mundo é a única ou mais decisiva instância da ação do ser humano em sua vida, de que a visão sensorial que temos, é a único maneira de contatar a realidade, isto é, a crença de que o mundo humano é um reino de coisas que se pode tocar. No limite de tudo isso o corpo, que mantidas as suas funções involuntárias e vitais, permanece pleno, ao passo que nem a consciência ordinária nem a atenção estejam ligados às suas operações superiores, os cinco sentidos e faculdade motora. Um único sentido e uma outra faculdade motora são-lhe então apresentadas: a visão astral e o cordão de prata, que liga-o ao corpo e às suas emoções. A experiência por breve que seja é o suficiente para colocar o neófito em uma outra disposição e em um estado de convicção gerado por uma experiência direta e compartilhada com os demais irmãos e irmãs na senda. Se o neófito fará disto o hábito de explorar, através dos sonhos ou mesmo no estado desperto as potencialidades ligadas ao funcionamento deste fluído imponderável e misterioso que se adapta plasticamente à imaginação do operador ou do ator tornado o que é circunstante conforme a visão interior de alguém aí. No extenso limiar que separa a vigília do sono, é possível experimentar ainda uma dupla percepção, a visão de aqui e aqui, do resquício da consciência corporal que vê com todo o corpo e da visão astral que se desloca do corpo físico conforme o corpo astral se estende nessa instância intermediária entre a mente e o corpo, o astral que participa de ambos e traz consigo a inteligibilidade e a elasticidade própria a cada um dos domínios em que toma parte. Na transição da vigília para o sono, a atenção se destaca do peso corpóreo e da atuação dos sentidos, sente a respiração como o laço que o ata ao corpo, mas desloca ainda a atenção do zunido argentino que percute pela espacialidade astral para aquela sede, um vaso ambarino diáfano, que não se vê, que se sente como sendo o próprio corpo perceptual. Embora o corpo astral seja uma réplica perfeita do físico, ou antes o físico seja uma coagulação do modelo que tomou o astral como molde e o configurou na sutilidade que governa a matéria, o movimento não se faz com as pernas, senão com a sensação da parte média do corpo humano, próximo e pouco abaixo o umbigo que se estende como um fio aparentemente ilimitado que se estende e se desloca muito rapidamente em qualquer direção, dobrando o espaço.
A Cripta dos Adeptos
Há relatos e basta-me dispor os signos de uma maneira minimamente adequada que os antigos hindus, os egípcios, os gregos e também os hebreus ao tempo de Salomão que estava associado a Hirão, rei de Tiro, e a Hirão, o filho da viúva, em trabalhos místicos de natureza desconhecida da maioria dos construtores e mesmo dos supervisores do trabalho, à nona hora, hora da terceira jornada, com outros fenícios, consagravam, e na Jurema Sagrada encontramos também esse relato, uma bebida extraída da Acácia nilótica, prima da Acácia mimosa, com o fim de iniciar estes místicos à Grande Loja Astral em que os grandes planos do Mestre Arquiteto eram partilhados e perpetuados. Todos os maçons participam desta Loja, porém, alguns poucos trabalham despertos nela. Obreiros do vir a ser são aqueles que sonham, diz Heráclito. Há indícios que os antigos rituais maçônicos de sagração de Cavaleiros Rosacruz, com suas três câmaras herméticas ou alquímicas visava proporcionar simbolicamente e mesmo operativamente, conforme o período e a qualidade da associação de seus membros, o vislumbre deste ramo místico dos trabalhos maçônicos àqueles que estivessem dispostos a descer à Terra, VISITA INTERIORA TERRAE RECTIFICANDO INVENIES OCCULTUM LAPIDEM!
Nos períodos em que estive mais ativo na condição de obreiro regular e mesmo em períodos de adormecimento sonhava com reuniões maçônicas, algumas de um caráter administrativo, outras de natureza mística ou oraculares.
A falha, a imaturidade, a fuga
O guardião que me recrutou ao trabalho como quem aceita o voluntário comunicou-me diretamente as suas credencias e a natureza da atividade que iríamos participar. Os exercícios anteriores tinham servido de introdução. Parecia uma brincadeira, depois tornou-se no clima de aventura, desafio e, por último, missão. Eu já me deslocava por toda a casa, ousava sair à janela e ia a lugares imediatamente ao recordá-los. Como a mente do jovem é previsível, a frente da casa da minha paquera foi o primeiro sucesso. Outras vezes, na semiconsciência, sonhava que voava pelas cidades astrais em uma altura regular, outra vez tive a experiência de descida ad inferos, uma região densa e baixa do astral, abaixo do solo, de uma sensação de peso gravitacional. Crescia em mim a impressão de que aquilo era a antecâmara de algo sério, que tudo aquilo era uma preparação assistida e permitida. Ele disse-me, por fim, que para manter-me na equipe precisava acalmar minhas emoções, que qualquer abalo me recordaria o corpo físico e, assim, despertaria ou pelo menos encerraria minha participação na atividade que requeria nada menos que toda a perícia na arte que houvera atingido até o momento. A cena da procissão estacada ante o umbral da porta: apenas o guardião estava dentro do recinto, no fundo uma cama e presumivelmente a silhueta de um corpo, acima deste na região entre o peito e o quadril deslocavam-se alternando-se como que três bolas ondulantes cujo rastro traçava no ar um verde azulado de uma luz baça. Naquele instante deu-se algo: a recordação do recinto, a posição da cama, o reconhecimento, ainda que no escuro do corpo ou da presença, de que era meu pai no quarto de minha avó me trouxe a lembrança de que era eu ali e um susto me atravessou com a ideia de que estivesse ali para prestar socorro a meu pai, quando eu ainda talvez fosse aquele que achasse dever-se ser cuidado? A coisa se tornou tão real que fui despertando no corpo como que convulsionado até o estado de sono magnético em que ainda não se despertou e se sente a vibração própria do astral como o próprio corpo da experiência. Aquele desdobramento foi o primeiro assistido e ocorreu de maneira instantânea, sem as etapas intermediárias entre a vigília e o sono. E ao acordar, a visão do guardião de algum modo se despedia. Levantei-me e fui ao quarto de meus pais que era ao lado. Meu pai não estava lá, nem voltara aquela noite. Dormira, e isso à época foi muito estranho, na casa de minha avó! Após o ocorrido, fiz tudo para evitar o desdobramento astral ou para acordar uma vez tivesse já desperto em sono, até que passei a dormir de lado, o que dificultava um pouco o processo. Tive experiências esparsas nos anos seguintes, e apenas em outras circunstâncias muito específicas de minha vida. Um delas, significativa estava relacionada à visão de minha mãe, após o falecimento de meu pai, na casa em que morávamos então. Ao atravessar a parede do quarto para a sala onde ela estava, meu pé ficou pego pelo pouco que encostava à parede. Ficara claro que foi por ter prestado atenção àquele detalhe que não conseguira atravessar plenamente, não porque aquilo fosse de fato um impedimento.
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