quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Uadi

Falar de Scherazade é não tê-la visto.
Dizer que ela é igual a ti
e assim chamá-la sem a mira,
é adiá-la sempre ao crepúsculo do dia.

Mil e uma são as Scherazades,
se quiseres falar com verdade.
Dar a ti as mil faces
é não te saber una.

Se fosses uma não te a quereria.
Mas como sois todas elas,
quero a ti todo o dia.

Assim como fazer de ti a noite nua.
Descortiná-la em todas as tuas faces
& frestas, as ruas plenas antes vazias.

Sempre novo para que assim me aches,
em quatro e sete fases de tua lua.

Que não te falte aquele olhar,
que através das noites sem luar,
de rubro a tenda inflama &
no rubor da cama em seda,
a luz de tuas luas derrama,
e ao corpo-cálice entretece.

Em marés de frêmito
a alma enlanguesce.

Lembra-te do mito
que ao mar do amor
foi dado imitar o rito
enquanto vela &
ao corpo dela
entumesce.

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