quarta-feira, 8 de julho de 2009

Vário

Disperso como o pulso antes da morte.

Após seu susto suas pálpebras tremem.

Ferem os olhos e do sangue no homem,

A ebulição no sêmen tal um balneário –

Repleto e vário como contas do rosário,

Guiam à perplexa vida na sina da sorte.

Esplêndido como cometa sem um rosto.

Lancinantes setas tais estrelas deu susto.

Confuso onde não há acordo, o coração,

Estrênuo liga-se no pulso a galope falho.

Tarefa diária levanta o corpo para a ação.

Cada batida de olhos e chama é trabalho.

Tal um vestido feito em pequeno retalho,

Vivo calado com minha lembrança suave.

Com o cajado desenhei em o vôo essa ave.

Não sei se é mesmo horizonte de antanho.

Virá diáfano através do teu olho castanho,

O cometa que reduzirá meu dia em cinzas.

Poetry

Oh, incêndio alto que singra o céu,

Traze a festa contigo em teus olhos.

Circunda ao ventre dela com o véu,

Na união de linha pontos abrolhos.

Convém delimitar ao arquipélago,

Que aumenta na medida do sonho.

Vivo quieto a calar esse real aziago;

É na queda da noite que componho.

Fio a fio entreteço no afeto violento

A paz e o silêncio desfeito o soluço.

Recupero o vigor, a força do alento,

O feliz contento de sorver o rebuço.

Quanto mais ouço o rio espraiar do

Peito ao encontro dês rico brocardo.

Veste-me

Atroz é a jornada pelos sete mundos de Maia...

Até que ponto o Todo é o imóvel?

Não sei. Assim estás representado

Na Roda:

- Numa antiga narrativa cósmica,

Diz a voz do fogo recém nascido:

Da arte de mim mesmo é imagem

Minha imagem e a minha sombra.

[Minha sombra és na minha imagem].

Vesti-me como a mim mesmo em ti.

A tua perícia me deslumbrou o dia.

“Sê comigo” quando tornares a ser,

Novamente, eu mesmo e os outros.

Então o Artista concebeu na Veste,

A primeira indumentária do Leste.

Desce radiante sobre a terra e reina

Sobre mim – que sois vós mesmos?

Do primeiro nascido te encontrei entre

o perscrutador silencioso e sua sombra.

Ela tornou-se mais forte e radiante com

Cada mudança. A luz do sol do dia tem

Mudado no meio-dia de glória, quando,

Não há sombra humana sobre a Terra –

As asas rumorejam através das chamas

Do fino poder do fogo verdadeiro – Fohat.


Zero

A Lua vestida de Ouro, olhar noturno,

Broche de glória, da luz que não cessa –.

Acaso te não interessa o além Saturno?

Faz que desconheça a morte e a pressa.

Não alteia a parca ilusão de teus dias?

Corpo negro cravejado assaz brilhante,

Cadê teu seio donde brota lancinante,

A ocasião dos seres que de si irradias?

Festivo pela noite que cerra o destino

O nosso teto solar não me acabrunha,

Atravessar a nado é a sina que pugna

Adepto fiel em seu constante desatino.

Alarga o templo na tocha que impunha

O labor de quem cumpre o que designa.

II

A Estrela plena & lúcida é o escrutínio

Plácido e lânguido que o olhar arrasta,

Se de si a só espelho cósmico contrasta,

O bestiário astral e secreto de um Plínio.

Langoroso o licor jorra da Fonte Total.

O que cai com igual força retorna fatal,

Ao gargalo seminal aberto na comporta

Sideral do mistério que semeia a aberta

Horta quando fazemos silêncio, não hás?

Sibila o oráculo na busca de que é capaz.

Mostra teu dente àquela que te a cansará

Já que teu ímpeto não se compraz a caçar

Pouca coisa que no laço não se comporte:

Compete contigo sempre outra, é da sorte.

Tu

É preciso saber ver, pois ver é complexo como tudo.

Não é a ti, pobre quimera,

Que eu busco pela Esfera.

É tão somente a intenção.

Prevista nessa intercessão

Dos saberes que se tocam,

Dos olhares que evocam –

Pura e pretensa obsessão.

Sei que não me vislumbras.

Não sou claro nem obscuro.

Vivo dada às mãos que curo.

Sem ser pelos comuns bravas,

Nem ameno ao sabor de vagas,

Apenas esta entidade do meio.

Por que não seriam totalmente

Indiferentes quanto a mim as estrelas?

Só porque estou abaixo delas?

Calhar estou acima delas e a perspectiva é outra e errônea.

Calhar é por mim que elas vivem.

Soberbas, sobreviveriam não houvesse alguém para olhá-las?

De que vale a férrica intenção do poeta de descrever o verde, os campos e as flores, as estrelas e os astros, as vidas e as gentes com seus olhos e suas cristas? Afinal a realidade não basta e é preciso duplicá-la, cindi-la ou espelhar-lhe? É que todas as coisas são passageiras como os dias e as imagens cumpridas, no papel se prolongam, para além da sorte que lhe dá os poucos dias em que uma flor consegue manter em seu viço e suas cores.

Crepitante

A borda do mundo é uma Águia.

Se não me faço entender,
É que há propósito em só
Saber o que se quer dizer.

Crepita trêmula e vária a bandeira.
E em sonho a si mesma encerra.
A voz que canta em seu eixo gira.
O profuso eco da musa não erra.

Pelo sonho ia sem eira.
A mão ávida não capta a mente:
pira face à tão sinuosa serpente,
em espinho a rosa protegida gira.

Ao tocá-la fez-se orvalho
a opalescente gota branda.
Enraizada nuvem deu a luz o carvalho.

Ao core trespassa trôpega a sombra,
canhestra, lôbrega, como ás de baralho.
Morto o homem o duplo dias
dançaria sem câimbra.