segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Pai

Se pensarmos profundamente findamos,
malfadados e exaltados,
inexoravelmente na interrogação,
o início -
o que em outras palavras disse F. Pessoa.


Acho que começo a entender-lhe o senso de humor
negro e trágico...

O que me não reconcilia?

O universo existe como resposta a uma questão:
o que é o mal?

Eu iria às putas se fosse um garotinho carente
de experiência.

[30.11.2008 - 9:51]

Daimon

Ó meu daimón,

Queridas veredas que o gênio abre,
limpa o terreno que as pegadas trilham.

Quantas venturas não puderam assim
ter sido singradas, quantas por ventura,
não nos serão dadas?

É o demônio que corrompe o Homem,
ou ele que deixa se levar por aquela
que, verdadeiramente, não é a sua voz?

domingo, 29 de novembro de 2009

Casa

A casa é Forte
e a Firma é vasta

Valores

Hoje é o dia em que pude corroborar valores.

Reiterei perante aqueles por quem mais tenho
apreço, isto mesmo: valores.

O que verdadeiramente importa é o Bem,
não o alcançarmos que importa?
Importa o exceder-nos...
É paradigma perfeito.
É oceano profundo e maior, mesmo que uno.
Logo é para o Belo que nos voltamos,
deparamo-nos com a infinitude e finitude.
e já não sabemos o que é o Belo,
esquecemo-nos.
A Beleza nos escapa,
na fugacidade do eterno,
imagem côncava que
espraia entre dedos...

Nos voltamos para o Saber
e encontramos discernimento
para o que importa: o pouco.

Sabemos, somos pouco,
o doce fruto da árvore
do conhecimento, o mal
e o sabê-lo perpetua-nos
na idéia de que a arte é longa,
e a vida é eterna.

Do amor a vida, filosoficamente,
obtemos gradativamente o nexo
que nos reconcilia com a Beleza e o Bem.
O não pode ser medido é a própria medida.

Exceto Amor nenhuma outra liga faz da Virtude coroa,
com a tempestade o moeiro faz boa farinha,
a Verdade é o acontecer, que é medida de si
e das imagens que evoca ou lança no âmbinte
em que se está,
telas sobre tela.

Amor liga substantivos.
Os adjetivos são amorosos,
nunca o notaste?

Livre-nos o valor dos negativos movimentos
propiciados por certos humores e martírios,
e saiba-se balancear as compleições pelo gênio
que o ânimo inflama e que a terra permite, ama,
nutre e anima, com embalos de mãe gentil
na noite pasma que é a noite,
os se estreitam os laços e um lânguido estrépito de sol
dimana por entre as coisas atando-as pelos espaços...

Mas quando os ossos sentem
o frêmito noturno e calafrios rasos
lembra-te do Amor e este calor
se te apaziguará o frio cálido do crepúsculo,
com a aurora e suas cores no jardim plácido
dos palacetes constelados.

Lobo-guará, Mico-Leão, vós com os outros
e conosco perfazeis a soma total das espécies
de seres contidas no âmbito das coisas eternas
apesar da fúria infausta e o coração do homem
corrompido pelo desejo insano de pertencer
à outras coisas que não a si e aos poucos que
o valham, mulheres e homens de grande valor.

"Dos Indivíduos e suas espécies", p. 12-13.

sábado, 28 de novembro de 2009

Três teses físicas

1) Percutem as coisas pelos descontínuos espaços
que entre as coisas físicas
o magnetismo sustém:
o que perfaz cadeia-constelada.

2) Tudo influi em tudo -,
em graus de afinidade e intensão.

3) Movimento gera movimento -,
os que qualitativamente se distinguem.

Moira (dito)

Sempre em busca do maior,
para que a morte seja breve
e precavida.

Que não te aferre a hora
arrogâncias que to mitiguem.

Que te eleve ao que é leve.

O mais é mínimo,
quanto mais mais.

Moira II

Árido,
muito árido.

Sabem-se as coisas em suas partes
de cada inteiro que une
ou as ligas invisíveis que os as atam?

o 'o' a 'a'
e
os 'os' à as 'as'

o corpo às asas

Força sensível no limite que o tinteiro
pontilha, e preenche-o:
sopro, suor e calor,
limo, sangue e fogo,
caudalosos rios
de alvacenta chuva
que aos dourados
trigais cevam -,
para que discorram:

cíclica torna-se elíptica pelo peso do espaço,
nega-o e atribui leveza ao átomo (figuração)
em face do sem-tempo, um ponto psíquico.


As partes dão-nas as Moiras,
compõe corpos que lançam-se
no mar das horas,
quente e límpido.

A força nisto mantém o sensível,
porém, ela una, não composta -
quem a deu?


Moira

Sei que incorro no temerário erro
de julgar o que as aparências mostram
[redundância cíclica -
phainô,
as coisas já são dadas onde aparecem].
Em aula deito o pau na imaginação.
No papel me reconcilio que ela.

Como é que é
que o que se julga,
isto é, se aceita,
[dokaô,
tauta mahêseai,
hôs dokounta khrên dokímôs einai
dià pantòs pánta perônta - sigo trad. do Mestre:
"tudo aprender,
como aparências aparentemente são
passando todas através de tudo" (DK22, B1, 31-32)
tornar-se-ia verdadeiro?
Ou a verdade é o que se revela?
[O aparente é o real]
Pois o um está em todas as coisas
[en pantì eóntôn,
cada coisa segundo o seu domínio
[hékastou dè katà tò epikratoûn,
(DK59 B1, in Simpl. Física, 155, 23]
Cada coisa tem parte em tudo...
[én pantì pantòs moîra... - fr. 11]
Estas partes são as Moiras que as dão.

Maiores mortes maiores sortes [partes]
recebem.
[Heráclito, fr. 25 -
onde mortes - móroi
e sortes - moirai
são o que as Moiras
repartem, verbo meíromai];

Felizes os intrépidos,
os em quem o espírito
fez morada de futuro.

Mas os homens
descompassados não ouvem,
ou se ouvissem
é como se não houvesse
ninguém em casa,
presentes estão ausentes .
[pareóntas apeinai - DK22 B32, ad finem].

E eis o seu martírio.

É que ainda que comunguem do lógos,
não ouvem nem escutam a voz interior,
aquela que reúne todas as coisas, homologa.

Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça:
limites de alma não encontrarás
tão profundo lógos [sic, idem: medida]
ela tem.

A partir deste antigo lógos é sábio concordar:
tudo é um - hên to pán.

Propriedade

A propriedade mesma é pobre

O cão da penúltima casa
quer apenas que eu respeite
o perímetro que ele guarda,
ou seja,
não pise na calçada,
é privativamente circunscrita.

Sua jurisdição.

Entre em casa e feche as portas.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Vestido

Sentada, ao sul do Busto de Tamandaré, entre trezentos e trezentos e sessenta metros, deste marco, em direção às praias do litoral sul, Cabo B. De frente para a rua, de costas para o mar, obstruído contato-contínuo um bar, não olhava para a rua, mas obliquamente e para os lados não fixamente num ponto, uma das formas possíveis de quem está a pensar, revolteando os olhos nas órbitas no horizonte inscrito em ângulo convexo, [a questão é onde e não como, eximo-me então de falar como os seus braços estavam em posição paralela] com algumas pessoas, não tenho certo se foi mesmo na quinta-feira ou na sexta, lembro-me que foi depois de um evento [mas também não posso precisar se esse foi por você presenciado, ainda que houvesse tido termo pouco antes] era uma sexta-feira e agora tenho quase certeza, porque deparara o Bebe Blues &c. fechando um tanto cedo; antes apesar de não teres tu perguntado, e mesmo que não tenhas, antes disto, estava na praia e presenciava movimentos de reconciliação cósmica de um amigo e interlocutor, precisamente sobre lembranças ancestrais e imagens descontínuas, i. é. estáticas, onde soluções de continuidade supõem incógnitas quebras ou um hiato entre, e só assim poderiam ser explicadas, o sono e a vigília; não basta dizer que a percepção dos estados de alma e de suas dimensões naturais e qualitativas, é preciso investigar esse abismo, buscar respostas para imagens primevas, dizer o que é o mar, o oceano [vez por outra opaco, colectividade de coisas que não se pode contar], e o horizonte que separa, porque delimita o céu da terra que, tem de grande berço oceano, mar sem limites; muito do que é visão cinde-, o que não posso prescindir é fotográfica memória, no exacto sentido do termo, já que dentre os movimentos qualitativos de minha visão, devido expansão em direcção contrária pôde, por força harmoniosa se deixar arrebatar graças à precisão iniludível do fio que junta em coincidência possível os limites daquilo que uma coisa é, i. é., a bel... & o b[ruído]m, ‘e que belo vestido portavas’, "quem o saberá?", de havia poucas horas atrás... Isso não é desculpa para não saber o nome do estabelecimento comercial-beira-praia-urbana em que, talvez, poucos instantes possa ter permanecido. Ver é seleccionar. Falo de Uma imagem que se produz no fluir dos filamentos luminosos incidentes na superfície produzindo acústica, direcção, volume &c, ressonância que espraia e re-torna, repaixão e eflúvios que dão conta de figurar a aparência nos detalhes que mais afectam e colidem, não obstante tão somente as ondas fortes terem o carácter suficiente nítido para causar impressões, como o artífice que grava um estatuário íntegro e coerente, que dada à natureza generosa verdadeira daquilo que foca, torna-se capaz de ver sem precisar estar olhando [tenho dúvidas do limite que se possa a dar a expressão “todo o tempo”], quando todo o olhar só tem uma função, o flerte, que é uma confissão, que é uma ênfase, para o que já se sabe, logo, afectação do ânimo êmulo de ter o que dizer, ali no instante em que só se sabe o nome, primeiro indício de trilhas e pontes, ora amplas ora estreitas por onde vectores (sic. Corpos), vias para novos fluxos, odres novos para vinho velho, que ora contém ora escoa. Sendo coados por nossos filtros, nossa tecida veste, que foi cozida pela força-fluxo coesiva [que ao ter consigo prenuncia que é causa sui e de encontros].

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Sons e cordas

Fecho os olhos e ouço o fluxo...
Reflexos luminosos fugitivos
dão lugar a rebatimentos
sonoros que ecoam pelos poros.

Sentidos ativos em contínua seleção
(não se pode querer levar tudo-,
o que seria estupidez ou falta de gosto)
devem re-educar-se, ao que, do contrário,
anularia todo o refinamento sem hierarquizar.

O som me devolve a distância.
A distância que quero manter
das coisas que não importam.

O mundo encontra-se colonizado.
Cores, formas, e soluções...
Onde vai o oceano do desconhecido?

O poeta encontra-se subjugado
na cidade, sob o signo do óbvio.

Quem é que assim o quis?

Liberto-me.

Em cada choque,
sobre cada fluxo,
reitero meu domínio,
senhor do cosmos e
das imagens poéticas.

Libero a energia que é ser
os eventuais córregos.

Verto-os
em transtornos práticos,
devido ao meu caudal.

Vi-a na quinta-feira
de uma semana passada,
creio eu.

Havia vinho
em um copo de plástico
em minha mão esquerda,
[nele cabia o caos íntimo]
assim me recordo;
havia deixado a taça
acomodada em segurança.

Teu olhar revolteava
as órbitas quase estáveis.

Estavas sentada
e isso me dava
certa vantagem
perceptiva
ao captar-lhe o fluxo.

Pelo grande rio
daquela noite
essa imagem ainda flui.

Trazia uma faca atada
aos dentes que impunha silêncio.

Desviava das pedras parcas
dos efluxos vocais pobres.

O que me ia na superfície
do diálogo interno,
dou-me o luxo
de confiar ao não-dito.

Ao que não direi.

É preciso lançar a isca certa.

Pois tudo mais imediato
é engano,
engenho temerário
de quem se compraz
na aparência comunitária
de acordo que as palavras
evocam.

Algo

There are more things


Para ver algo é necessário, antes,
[tê-lo compreendido, ou]
compreendê-lo como tal.

Em língua analítica:
Toi mên esti hórexis ti, hôs anankê,
- anamnêuein toiouton délon.

Senti que entre
o realismo e o idealismo surgirá a chave,
dentre todas,
a que mais se aproxima do gênio,
para quem
o realismo fantástico tem sido
o prenúncio.

Essa chave explicativa
que reservo ao silêncio,
já que é vã a tentativa de profaná-la
com uma denominação incipiente,
provocará a ira de céticos e materialistas que,
obstinadamente,
se limitam em crer naquilo que lhes parece óbvio.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Gimme tha Power

Para Johanna
...

Gente que vive en la pobreza
nadie hace nada porque a nadie le interesa
La gente de arriba te detesta
hay más gente que quiere que caigan sus cabezas
Si le das más poder al poder,
más duro te van a venir a coger,

...

Dame, dame, dame todo el power
para que te demos en la madre
giveme, giveme todo el poder
so I can come around to joder (x2)

Recife

Hell-o-ween
Essa cidade não tem futuro algum.
Uma chuva e vês o que a mantém.
As pessoas que se encontra na rua.
As que não se encontram nela...

Se não fosse por uma deslocada
amiga polonesa, com quem aprendi
que as dívidas cármicas existentes
entre nações podem ser descontadas
via interações individuais
re-presentativas,
essa cidade não teria graça alguma.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

União

Esse "humilde" funcionário da União
não tem do que reclamar.
[Não mesmo]

Na minha profissão todo ócio é produtivo.
[Leia-se nos afetos... dos outros]

Não preciso esperar por um final-de-semana,
[Todo instante é pleno com o olhar-ver-sentir]
nem pela "maturidade" para viver,
[inflexão]
- coisa estúpida.