quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Sons e cordas

Fecho os olhos e ouço o fluxo...
Reflexos luminosos fugitivos
dão lugar a rebatimentos
sonoros que ecoam pelos poros.

Sentidos ativos em contínua seleção
(não se pode querer levar tudo-,
o que seria estupidez ou falta de gosto)
devem re-educar-se, ao que, do contrário,
anularia todo o refinamento sem hierarquizar.

O som me devolve a distância.
A distância que quero manter
das coisas que não importam.

O mundo encontra-se colonizado.
Cores, formas, e soluções...
Onde vai o oceano do desconhecido?

O poeta encontra-se subjugado
na cidade, sob o signo do óbvio.

Quem é que assim o quis?

Liberto-me.

Em cada choque,
sobre cada fluxo,
reitero meu domínio,
senhor do cosmos e
das imagens poéticas.

Libero a energia que é ser
os eventuais córregos.

Verto-os
em transtornos práticos,
devido ao meu caudal.

Vi-a na quinta-feira
de uma semana passada,
creio eu.

Havia vinho
em um copo de plástico
em minha mão esquerda,
[nele cabia o caos íntimo]
assim me recordo;
havia deixado a taça
acomodada em segurança.

Teu olhar revolteava
as órbitas quase estáveis.

Estavas sentada
e isso me dava
certa vantagem
perceptiva
ao captar-lhe o fluxo.

Pelo grande rio
daquela noite
essa imagem ainda flui.

Trazia uma faca atada
aos dentes que impunha silêncio.

Desviava das pedras parcas
dos efluxos vocais pobres.

O que me ia na superfície
do diálogo interno,
dou-me o luxo
de confiar ao não-dito.

Ao que não direi.

É preciso lançar a isca certa.

Pois tudo mais imediato
é engano,
engenho temerário
de quem se compraz
na aparência comunitária
de acordo que as palavras
evocam.

Um comentário:

A primeira estrela disse...

hm,eu ri,não sei porque,acho que é saudade.Enfim.