domingo, 16 de novembro de 2008

A fauna é feroz

I

Vimo-nos olhos nos olhos,
olhos nús, a inebriante luz,
vinha de ti a mim e a ti
voltava nos fluidos oléos,
do aloés à mirra, a azáfama
de gritos nos ritos instintos,
incendiava o ritmo o ímpeto
na cena que era de um fogo
em luz pálida e, na voz atroz
fez-se do tráfico dos gozos
o tráfego cósmico do comércio
na via lúbrica e espiralada,
pela qual subias e a descias
docemente desvairada
o augido abismo da torre
de prata donde vias em ti
e sobre ti vibrar no porre
do brilho metálico regular,
a chuva de prata a inundar
dês a ponta do dedo anelar
pós todo o jardim adentrar
dos pés ao alto do edifício
monumental estátua de
mármore em movimento
natural cinzelada perfeita
e eu, um outro que tal,
destinado ao porto breve
onde resido qual uma nau
tua bandeira a coroar pau
cego do ciclope a forja acesa
portador do fogo dentre
as pernas toca o ventre
odorífera represa que
o vermelho e o branco
liberam na corrente
viva e funérea que
retesa e insufla
a nobre vela.

II

os olhos vinham de baixo
e subiam pela esquina de
aquela vinha, nem sei de
onde vinha, como ela de
ninguém mais viria a ser
tão rica, saborosa, erradia,
ao pé da selva tocata a magia
ao pé do coração a taquicardia
no alarido louco da visão se ria
esconrregadia a noite vinha
para engolfar o dia e esplodir
o branco da fotografia,
no delírio lúbrico, cálido
e espiralado, onde torna
a ti o ser alado, no tumulto
de formas incertas com os
dedos na meta a iniciar
os movimentos insignes
que ao mastro sustenia ereto
onde via direto, claro e certo
o movimento secreto de tuas
ancas nuas nas mãos minhas,
a percorrer a silhueta de suas
ruelas e vias, viés do continente
achado e perdido naquela
chama forte, multiforme e
tremulante, delírio perene
se ama, baila e cavalga louca
até que me derrame todo
e escorra por teu corpo
de entre a fresta, uma,
duas, o teu rijo e possesso
corpo na delícia do acesso,
rouca, sem a voz, trinava
tal canora ave ou címbalo
de prata, na dimensão
metálica do animal belo
jardim de cordas retesadas
de um pesado violoncelo,
velócino de ouro perdido,
e achado por um bandido,
que te retém infame, refém,
frente a quem não gozas...

III

Mas, diante o teu possesso
descompassado, o coração
aos altos e baixos, planalto
sucede ao vale e a planície
que antecede o novo início,
fim de gozar em teus seios,
os mais belos que já vi
e não vi...

IV

Não não vira, ainda,
pois não me cansei,
do teu rosto, não me dás
o descanso, desde que
inda vivi tão pouco de ti,
e ao menor indício, aos
sobressaltos, refaz-se o
planalto, píncaro do...

V

do desejo, novamente,
de um ponto a outro de
teu corpo ligar e que não
tardava um segundo pleno,
mui ciente do desejo de
deitar-lhe no corpo rente
ou em tua boca pérolas
com as quais à natureza
se coroa, inda que nalma
o desejo de mais dentro
roa, roa, roa e não voa
a columba dês que finda
mas não cessa a lauta dança
a seguir o trilho que é o ritmo
marcado pela baqueta sobre
que te lanças a dançar
embolia mística entrópica,
dança catártica da vida
que ao som dos ditirambos
surdos do coração se expandia
e que no corpo exalava o suor
melodioso e insidioso pelas
vias em que te respirava
rente as esferas macilentas
de teus seios em que tocava
com palmas das mãos, segura
baliza incerta no marulho
do mar que não deixava
o marinheiro mareado,
embora alheado de si
e nela entregue na sinfônia
do corpo que em suor e gozo
desfazia, química dos sólidos
que sutilizam e dos pesos
os corpos aliviam, sentia
ela no hálito quente da
boca que salivava a alva
do novo apogeu que se
inicia, não havia entropia
que chegasse para apartar
os corpos que entrelaçados
viam-se novamente em
movimentos ritmados
dês que um ao outro
já se de há muito sabiam,
e de tanto saber-se que
bem se saiam entornava
em círculos ao clitóris...

VI

De assalto por trás tomava-te
no ribombar rápido fremente,
já demente sem o pensamento
que maravilha, nirvana alçado,
atinge através dafresta úmida
e barulhenta, ora rápida moção
ora lenta igual a respiração
com movimentos que não
cessavam e na vertigem
que a alma enlanguece
tece e destece o seu tear
no próximo prelúdio que
antecipa, e não será decerto
o último, dês que atônita
a ela confessa quase satisfeita,
ilusão, pois quando refeita,
torna a ele torna como quem
com o olhar confessa digna a
idade em que o querer é
de querer toda afinidade
daquela, só ela é capaz
de no ápice da tensão ser
atenta para a comunhão
do corpo com o sentir e
imaginar, e fala palavras
de alto calão ao fim do
dístico do duplo insano
movimento linguístico;

VII

O ébrio corpo não fatigou
e ávida quisera mais a ele,
e tornou a tomar-lhe o que
a animou deveras; vivazes
seus olhos eram como das
esferas coroadas pelo brilho
do sol acumulado em eras
o que não se podia precisar
em quantidade, apenas em
na direção, pois navegar é
preciso
pois quem se guia
por estrelas fixas decerto
que chega pelo fogo delas
ao porto de seus anelos;
suas centelhas a animar
as esferas rubis do rosto
nos diamantes do outro
repercutiam e novamente
as pérolas brancas verte
se as vir bem de perto,
nota que viver não é algo
preciso, dês que suas curvas
são como o delírio fugidio
onde perdido em ti a noção
de espaço me faltara, se
não fosse aquele beijo que
me animara a tempo de
possuir-te uma vez mais
ao rés do chão mordi tua
bochecha e prontamente
pedi perdão na procissão
da energia que da pelvis
a nuca pressagia o odor
do líquido em ebulição;

VIII

A rica alegria que havia
em teus olhos ao ver que
em sua direção se dirigia
o líquido quente e viscoso
em um só jorro, é infinda.
Tomara-me pelo cajado,
ao fazer ido e vindo descer
e estalar teus lábios...
ao redor do pênis como
criança sôfrega...

IX

e por mais que possuisse
o teu corpo possessivo no
instante do ato lúbrico ao
que mais ávida ficavas
ao que mais prazer te dava
se tuas unhas em meu
corpo fincavas sentia e
não o sentia tanto devido
a pressão que ao corpo
assomava no paradoxo
da dimensão brutal que
faltava na leveza do
teu corpo que partia,
ia até a lua e voltava,
quando parecia que
a órbita completa iria
não perfazer e se
trafegava por entre
estrelas que ao teu
ouvido sibilivam, eu,
então ao pleno gozo
retardava,
apenas para vê-la
satisfeita com plena
volta completa, dês
que voltava refeita e,
chamava-me ao ouvido
pelo meu nome
e dizia-me não haver
tido outro homem antes
de mim que a houvesse
visto dar a volta perfeita
ao cabo da desesperança
onde se perdiam as naus
na herança que o mar
reinvindicava e era devido,
tuas coxas nas minhas
se batiam compondo
de modo o mais formidável
a sonora luta de máquinas
infantes infames desafiando
a constituição atômica
no capítulo da vida
que exaltavamos ao
extremo e faziamos
da fraqueza da vida
o bailar sincopado e
forte impregnado
de força preternatural
para que não havia
limite ou termo que
se impusesse ao material:
nem sensível xoxota que
subira tão que na volta
do filme gravado
em um fio de diamante.

X

querer-se-iam matar
do modo mais belo e
ter uma morte gloriosa
entre um outro gozo mágico
a abstrair da morte
seu caráter trágico
e desejar fixar no gozo
do instante a memória
do presente na enternidade
distante pela qual
reviveriam e perdurariam
tal diamante
no emoldurado negativo
da maquinaria catártica
do um observador total
amante da bela arte dos
corpos que criou para
o seu deleite
e que quando dotou
o corpo do poderoso
leite jamais imaginou
o peso do atroz enfeite
da obra naqueles que
o sobrepujariam em
imaginação e na ânsia
torrida ganharam
a corrida eterna
chegando antes e
vendo a si congelados
no pleno instante
o corpo positivo
do filme gravado
em um fio de diamante.

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