domingo, 9 de novembro de 2008

Réquiem para meu pai II

*11.08.1961/+27.07.2006;

A propósito da possibilidade de presenciar a...
e a translocação dos restos mortais de meu pai.

Isso faz parte de uma crônica, o que não é hábito meu.
Crônica de uma infância sempiterna.

O corpo do meu pai que falecera aos vinte e sete...,
hoje soube, houvera sido exumado e transportado,
o que antes fazia e se era inumado, faixa acomoda
a face e sola, simulacro, sombra e duplo, no corpo,
horizontal e isento de sopro, sem luz e apartado,

mas não pude ir, se o soubesse iria, só para não fingir
que olhos não tenho e que por isso posso fugir
do convívio com que quer que seja,
ainda mais se é meu pai?

Não, é claro que não.

Ora, o que é, ei-lo:
A memória, a imortalidade de meus entes metafísicos.
Meu tio retirara seus restos mortais do jazigo familiar
removendo-o para outro ainda mais familiar e terreno:
Piancó, sertão da Paraíba, calor intenso e leve aceno.

O soube uma semana depois, dois anos e meio depois
do último aceno, se chorei, poucos o sabem irei contar:
foi ver minha avó aos prantos sobre o ataúde que
a terra iria tornar - a imagem própria da natureza
que recolhe seus filhos ao próprio seio terna fonte
da vida e de seu contrário, breve aparência.

Perdera, minha avó, coincidentemente os tios
que mais gostava, restou um dos que eram sete
e hoje são três, e que talvez goste porque mal
o conheça, andarilho que era.

Mas a conversa com a família de lado paterna
foi tranquila, e muito se o não disse, pois não
precisara, mas o relato do fim de vida de meu pai
a poucos daquele modo eu precisara.

Falei de impressões profundas que vão na alma
quando às suas não crenças e convicções renunciara
a mãe, ao pai e ao filho clamando.

Segue vivendo vivo em minha alma, meu pai,
parte com o eterno que é continuar
assim como em seus livros de síntese de história,
materialista dialética natureza da próprias história
que confundir-se-ia com a sua.

A memória vetusta, a memória.

Dizem que minha avó tem uma certa crônica moléstia
alemã se lhe diz o nome e manifesta a consciência
como falta de lucidez ou conexão.

Eu, particularmente, não o acho, ela mesma,
vejo quando se corrige no ato, e os chatos
são os velhos tão cansados de ser que só lhes
resta morrer como quem a terra chama.

Ela, terna, me reconheceu, e eu fui, enfim,
menos constrangido por não ter sido
reconhecido da penúltima vez.

Sabia que os semelhantes lá,
fariam-na lembrar as linhas convergentes
no rosto diligente de seu neto,
um tanto infame.

Difícil ter lá onde fora os dias findos,
que repercutem nos livros fundos e
profusos, alguns dos quais da autoria
dele, recuperei depois de tanto.

A frente da estante tão experimentada
e forçada sem a chave...
Pensei que
precisaria fazer aquele truque,
mas estava aberta...

Por um segundo lamentei que não fosse
preciso a astúcia.
Não é que vândalo o fosse
mas a sua sanha arquivista verdadeiramente
não tinha limite.
Sorrateira e materialmente,
surrupiou uma de minhas primeiras cartas
cujo conteúdo adolescente
que de modo eloquente e tolo
já dissertava sobre a paixão (11 anos).

Sentira-me ferido... em minha antes fortaleza
inexpugnável...

Assim como certo dia vi em círculos todos os meus
papéis ao chão, que coisa de curiosidade não sã,
deitava-se a saber do filho com que pouco
versava, malversava em frustração e brigas de um
tanto sempre falhas.

Lembro-me que digitava seus livros,
penas aos dedos, e que por cinco vezes
não me o pagara...
Mas que bobagem!

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