sábado, 13 de março de 2010

Orbis Pictus

Glorioso delírio, celeste loucura.

Coroarei a tua basta cabeleira da verdadeira cor de ouros lustrosos; dedos meus perpassarão em diadema a saber todos teus fios, enclavinhados ao sabor luzente e altissonante de variegados sóis; esplendor da Coroa Solar que te preparo em vida é apoteose de um teto que não enfada, auréola do Sonhador que fere o ar, na irrealidade do voo em rumores de invisíveis asas; chamaram-nos a sala dos olorosos óleos destinados aos corpos prestes à vertical ascensão; quais virgens opalescentes azeites visariam lubrificar a superfície dos diamantinos olhos, perspectivados amantes da clareza, puros, lúcidos, clareiras incendiadas a fitar horizontais linhas enlanguescendo em curvas, delirantes e sinuosas órbitas que eram ambas almas espelhos consequentes da perfeição esférica das formas; justa e bela proporção por equidistantes sejam das extremidades em função do centro, movimento circular e translação; permaneceremos cada um o mais semelhante a si mesmo, harmonia de nós em todos os sentidos e direções, enquanto o aparentemente outro é espelho, autônomo; cedo ao que é melhor; sejais assim meu digníssimo coração, condutora da comum auriga cósmica em que atravessamos metálicos os magnéticos ventos do boreal hemisfério celeste que nos perde; já sois como os corpos estrelados quais incontáveis vasos de mel que se derramam; seja seu em enumeráveis setas incandescentes ao encontro de teus vertiginosos vestidos, imensidão misteriosa do fluido que é o espaço, lábios onde pendemos a estalar em profusão de estrelas; pois és o que sou, imponderável luz, princípio e fonte, fluxo e nutriz; o universo é ora palco, ora manto, em que nos mimamos a mimetizar tantos estados de alma infinita quanto a variação dos móveis que, em nós movendo, permita sempre novas combinações de sentidos; um dia que ocorreu, porém deste veículo estar distante, num futuro acumulado, quiseste ouvir em imagem a lira; testavas-me a Memória; canto-te a glória e com voz potente, libo vinho do chão do abismo ao teto sem fim de onde bebo a força desta canção; nunca foi tão sublime o pranto vertido pela corda que fere pela eficaz feliz expressão que por primeiro te trouxe a experimentar o acúmulo de que o acento terno faz a ênfase com a violência mesma dos dedos que acompanham o tamborilar dos tempos, a quase perfazer o último Ritmo deste ciclo por antecipar a conflagração que ainda tarda; mas, no auge da elevação transforma a tua alma, nobre, esquecida, em hoje opaca caverna por prisioneira de rudes imagens, pesadas sombras que por esta Hora te entretém com efêmeras promessas; se estás triste, meu bem é que não transpuseste o umbral desta fútil paisagem em que não te encontras; atira ao fogo essas carroças e as palavras lentas que te não transportam àquele reflexo inexcedível, pois é à distância dos véus lunares que a música toca, aquela que canta o que te torna afim ao Belo; dás cabo logo dessa pausa desnecessária entre a sístole e a diástole para o fluxo fazer jus ao Eterno.

F.'.

Um comentário:

Unknown disse...

hum... só queria saber..