segunda-feira, 1 de março de 2010

Orfeu e Euridíce

Meu amigo leva mais tesouros na alma
que insígnias no peito.
Se não te sabem, tenhas calma;
Não te partas, não há jeito!

Imagens faltam do que é perfeito.
Perdoa-me o que de ti meu ser projeta.
Canto-te, músico, pois hoje não és poeta!
Precisas de mim, apesar de meu defeito.

Tens a densidade de um lírio,
e a energia de um deus,
sabem-te afeiçoado ao delírio
cada um dos amigos teus.

Como imortais as cores belas
que hoje mortas vivem em tuas notas,
barrocas oposições em telas,
sabem à tua irmã que mede as cotas.

Certa noite te perguntei porque arde teu coração.
Por Euridíce, mo disseste,
só ela há naquele nobre salão...
... na carne dela tardam os olhos para dourado Leste.

Perguntamo-nos o que lhes toldam,
e descobrimo-lo com assombro,
são as sombras que saem do escombro,
e fiam malhas com as opiniões que moldam.

Querem cegá-la com peneiras,
e teceram-lhe um cruel destino!
Projetam-te o Hades, vítima do desatino,
para que façais felizes às toupeiras.

- Por que te curvas, ó minha pérola,
com que infames laços e vis encantos
te atam a terra esses verdugos anões?

F.'.

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