sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Admoesta et errabunda

I

Se consigo tens,
simples és feliz.
Que te does
doa o a quem doer.

O que tiver a sorte
dispensa e perdoa.
Mas tudo isso tem
um sentido:

a quem mais for dado
mais lhe será exigido.
Faz da sorte um fá sustenido.

Corpo que há, corpo que vai.
Mala a sorte limita e cai
numa vala e não mais flui

II

Os olhos cessam.
A entropia o diminui.
Ainda resta tempo
a perceber o que não sois.

Não mais teu cadáver
arrastará nem caráter
a te distinguir.
Cai o pano resta-lhe partir.

O grosso pano de tuas vestes
não dispensaste para o rigor
vigoroso de teu último fulgor?

Quantos anelos alimentastes?
Diante quantos anseios fulgazes,
em medo tépido não paralizastes?

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