sábado, 25 de outubro de 2008

Complexa & Harmonica IX

Ilustre entre os números o nove é egípcio.
Numero hieróglifo da iniciação, o mistério.
Eneade articulada sobre triângulos mágicos.
Cuja alta coroa é mistério legítimo primeiro.

Osíris Pai, Ísis Mãe e o Filho, Horo.
Duas tríades para baixo, vilegiatura;
Além da Inefável palavra da altura,
Inarticulada ou inacessível ao homem.

Pleno ocaso onde do rio as águas somem,
Quando mais que dois sons num fundem...

Complexa & Harmonica VIII

Sola vera laudat philosophia homines veritatis rectae.

Fiat inde Xenophontis verum mandatum.

Lege omnes sophos ergo sic tuos.

Complexa & Harmonica

Coniuctio solem & lunam.

Species rara similia rem.

Magna obra natura cursum.


Sum enin ego quid sum?

Alliquid verum Gaudio esse

Parva NE minore misere


Vir! Ó, nata explendorem

Solis, magis non amat

Sine vera natura rerum,

Quid imago sui & altri est.


Summum Bonnum in Prima materia

& splendor solis & luna omnia veritatem ens.

Arva, Natura Lux in lucernae flos Amaericae.

Complexa & Harmonica VII

Dizem que cozinhar é pura alquimia.

Mas é da mistura que provém os sabores.

Dos odores quando se juntam os licores,

Pois é do choque que faz arte exímia


A esplêndida obra e meta da natureza.

Porção rara de cores. Amores e riqueza

De sensações, pois se o pensado é o real,

Devemos extrair disso algo fundamental.


O que há e sempre tirou o sono ao metafísico:

Que ser mau em pensamento equivale a ser

Mal, mau na realidade mesma.

Complexa & Harmonica VI

Colorem auroras enquanto lá fora

Em vertigem vivendo flor aflora

Enorme dengo forma do zelo enleio

A prenda se paga coroa-lhe o prêmio.


Flutua ao sabor da ânsia tua, força nua,

Flat da onda, a espuma onde Afrodite

Foi concebida. Do mito quero é que:

O que vier dela forme e me edifique.


Não segue rumores de almas bárbaras.

Procura ir e apreciar as essências raras.

Fazendo no sangue fulgurar e ribombar


Luz través do ar, cor oco a bombear

Ao sabor do vibrar e sendo o cheio

No tempo vazio verá que não veio.

Complexa & Harmonica V

Melhor pensar antes de falar.

Antes de tudo, melhor sentir.

O que amora, oliveira e uva

Tem que ver com o fremir?

Querer é tê-la ali onde é.

Fracassar é não saber lhe lá.

Tendo isto nisto reverberado

As fibras, as rimas e as cordas

Se me o foram arrebatados.

Não é causa de altercar com ela

É caso de compreendê-la.

Pois ela é causa e altera

No sentido mais radical

O que o tem se natural

Raiz for igual o teu real.

Digo basta de ser moderno,

Quero vestir do antigo o terno

E fazer versos alexandrinos.

Complexa & Harmonica IV

Se a corte está formada entorno.

Corto a fio da ironia o transtorno.

Ânimo exangue, o enxame rechaço.

Sangue no olhar castanho.

Do céu é o seu tamanho.

Dossel sagrado incólume.

Mão a tocha vem a lume.

Levo-a cingida ao braço.

Forjo forte como o aço

O arrimo que mantém

A tristeza anos aquém.

Complexa & Harmonica III

Meia lua inscrita a face.

Semicírculo;

Continuação de um sorriso que o rosto exímio

A poucos mostra.

Rigor do café negro que colara no colar do copo

A marcar uma concavidade ao lado de outra,

Ao lado do lábio inferior uma lua, também côncava.

Fino contraste dos grãos.

Finos, cheirosos e macios.

Recolhidos na face, com

Rubor incontinente

Que dos olhos raia

deixa ser o silente.

O celebérrimo o espetáculo

Não quis findá-lo...

Bastaria tocá-la boca!

Frêmito.

Até que outros chamaram.

Triste sinfonia dos muitos.

Ela teve de ir.

Não sei quê de eternidade

Coroou aquele momento.

Ela foi, mas o sorriso riscado,

E o sorriso somado,

Permanecem;

Tanto somos quanto memórias temos.

Complexa & Harmonica II

No deslize da seda

o declive é antecipado

pelo seio, eterno delírio

de um ponto fechado

dentre um círculo esfera

de naturais acomodações.


Formas para as quais há inumeráveis adaptações.

A falta do olhar pousado ao ombro a incomodava.

Outro fazia disso, se dava conta, nuvem sobre tela.

A gota de orvalho no fim da ponta do cílio era ela. [e não dela]


Tal a beleza brota em água e cavilhas

A natureza ávida como a lira dedilhas.


Antes que a cinza cubra o Vesúvio

Jorra lava quente e rubra, eflúvio

De força fatal ao ínvio nível.


Atônitos em face da chama

Acedem no corpo que clama

E ascendem tochas e amores

quais entregam aos fulgores


em torrentes de luz e calor,

sem saber sobra de amor.

Complexa & Harmonica

Branca e lisa como a seda roçagava a pele nívea a alça

Que cingia o ombro, píncaro nu onde a ver fixa o cimo.

Seja alto como roçagar da seda no corpo em que rimo

O alarido que brota vivo da silhueta, a forma não falsa.


Correspondem os olhos magnitude de orbes.

Frente porte-coroada de formidável cabeleira.

Distingue o denso do sutil a autêntica joeira.

Escada alta para cima e baixo pela qual sobes


Com braços livres ou ao corpo colados,

Alçados antebraços, esvoaça o cabelo

Em cortes conforme alguma das idades,

Recolhe aos degraus o efeito de afinidades


Tornando acessório ter ou não pés calçados

Já que nem ao chão se toquem pares alados

A encontrar face o que para lá há de belo.

Terra Devoluta

Eis que o cultuador da liberdade
dócil e espontaneamente se entrega,
como um gado se entrega ao cativeiro.

As coisas apenas aos olhos alheios se satisfazem.
Se olho para ela, eis que, surge em sua mente
uma promessa, uma paquera, nem simples flerte
que é com a natureza inteira, de cujo seio é imagem.

Mas se me surpreende a olhar ali nos olhos,
eis que lá já deveria ter encontrado eu uma fonte
de onde brotam beleza, bondade e... virtude,
coisas que até então passaram insuspeitas nela.

Descobri que não me satisfaz dormir em cama alheia.
É peso do exílio a oprimir minha alma.

Tão triste e escravo quão mais distante de si.
Oh, ignaro peregrino, refaz-te no caminho,
sulca a terra e ara-a com seus passos de volta.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Vazio e Pleno

Ausência de quê?
Dia de muito,
véspera de nada.

Incólume sigo cheio.
Afinal onde quer haver
o que sente faltar?

Perde a liga quem a si boicota.

Alma cheia, horizonte
em vista vasta e larga,
cabe.

Olhos perdidos a fitar
a plenitude irridiscente
que ao olhar arrasta...

Só por lhe ser semelhante.

Feliz quem coisas na
realidade não separa;
uni-las é o que basta.

Seja lá ou cá onde
as quer ter,
o cor é caixa acústica
e vetusta a preencher
distâncias de som e luz.

Aforismo

Onde senão na alma do [si]
transubstancia forma e conteúdo?

Sacrário

Será o absurdo da sincronia,
expansão, vida em disritmia,
como se barco e timoneiro
no arco do céu o paradeiro

perdido flutuasse leve e ligeiro
a distinguir o traço particular
daquela que aguarda locupletar
parcela antiga em que era inteiro?

Volta, ó viva e augusta chama
a animar esse duplo veículo
faz disso o ápice do versículo

a relembrar todos que amam,
se por meios sinceros chamam
não é senão a si que reclama.

11 de outubro de 2008.

Devoluta

Vejo nas estrelas.
Tantas vezes quão tudo parece disperso,
o universo finito e o infinito, seu reverso,
caótico, desde o início.

Ordenar é ligar pontos.

Vozes e barulhos que o mundo e a gente
faz; o que há é o que fazem.

Tese fraca:
Pensar é tender ao repouso.
Sentir é desejar movimento.

Tese forte:
Pensar é repouso.
Sentir é mover-se.

Dom Segundo Sombra

Dublê de mim mesmo
sigo como sombra.
Vi-la surgir no umbral,
pórtico com a penumbra.

Senti o coração na porta,
a boca seca e torta,
plumas de ave a altura
do peito, assim a vi.

Em mistério envolta, brota.
Tamanha beleza não há
de buscar na natureza morta;
dizê-la tal qual é, genial façanha.

Voa a esmo a borboleta
e o morcego, cujo nome
é Consciência. Aquela,
leve e primeira, Sentimento.

Corre a galope, de um lado,
um corcél negro, doutro,
uma égua branca, que se
lhe chamavam Ventania.

Força cega que
força a fio de faca
o círculo hermenêutico
da história a seu favor.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Questão de ver

Tão diferente de tudo quão mais reais.
Não sei sob quantos modos sois diversa.
Olhos que não conheçam fim hei de pedir
ao deus, por muitas eras mais,

como dizê-la musa boa e bela 
sem ter que pintá-la em prosa?
No comércio com a natureza
tive a mim com o que sei dela.

Nisso, a refutação resulta vantagem
para o refutado. Ágeis por vias agem
a memória exímia a pregar-nos peças;

croquis perdidos nos passos de caleças.
Em rima é outrem o quem escreve,
quando do ritmo de cor se serve.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sorriso Guardado

Homília ao estar-a-ser criança,
12/10/2008.
[Verso, sorriso guardado].

Emprego tática,
escrevo não sei porquê.
É um fio de música 
na clareira dentro...
Ei-la.

Não mais corpos infantes
correram ruas como antes.
Deixa-se o pega-pega,
para trás o esconde-esconde,
mágica infantil e leve.

Por que será tão breve
o período da rima sempiterna?

Como dever ser a alma plena
coisa que a vontade inclina:
miríadas de sensações no laço,
comboio de memórias traço,
trazendo na alma qual cisterna
o amanhecer e a luz eterna,
reflexo do qual como farol,
gira a lanterna acesa em caracol,
a subir e a descer,
conforme calha a sorte
dos que vivem após a morte...

Ao longe o monte uniforme,
um ponto onde tudo dorme,
logo irradia e consome.

Abraço

Aperta contra o peito direito
o peito esquerdo, o coração
em abalo, na forte emoção
reaviva o encontro estreito.

Não é nó, mas um laço.
Firme não quer soltar.
Dá a frente um passo
e alça ao alto o braço.

Mister é que se diga
quão bom o amigo
quão quista amiga

pois não é se to digo
o mesmo que sinto
ali onde não minto.

Bola de fogo perfeitamente circular

... as pedras tem êxtases ao luar -
A.C. cit ex contexto.

É preciso confessar isso:
esse poeta místico... sou eu.
É o que da refutação resulta.
Quando é luna como musa,
que nos vêm e admoesta.

Ao verso, idéia, ato,
é justo corrigir.

O bom e belo no agir,
o belo e justo é lícito
dizer muitas vezes.

Quem provou da amora,
assim ou do fruto da parreira,
sabe que se deve ir-lhes aos bocados.
Ninguém come amora uma a uma
se deseja ter disso experiência.
Reuna-se muitas na mão nua
e toma-as de uma só vez.

Bebericava e alterava-lhe a tez,
marca de que aos quodores
se esvai pouco a pouco a sensatez.

Simbolos de familiares odores
dos vinhos que se guardam em odres.

Aos pequenos tragos
se evita estragos.

Franqueia lisonjas
quem se com porta
com espírito nobre,
que com o vulgo
sequer se importa.

No misto das amoras
o contraste dos tipos.

Faz da mistura
o bom tempero,
acétil, citrino, doce.

Encorpado ou espetado
o vinho nas pontas das
papilas acomodam-se.

Candeeiro que arde
no peito qual braseiro
noturno e interior,
auto-alimentado.

Bola de fogo ardente,
perfeitamente circular
despenca no seu ulular
a cabeleira luzente
imensa. Nau na procela,
lenta a singrar eminente,
ondas azuis em aquarela.


terça-feira, 14 de outubro de 2008

India Três

Brahma, o puro Atma
em Purusha viv' alma
que reflete sobre isso.
Níveo lótus ou narciso

os lírios eternos e bravios,
bravata guerreira e sábia
tal Krishna, os contrários
tocam olhos em plena Maia.

Brahman, Verdadeira tríplice
mistérica onde Vishnu
e o terceiro fogo, Shiva,

pois para que tudo viva
devem tornar tudo uno
no múltiplo e natural índice.

Alquimia, calor e suor.

Quamquam animum turbatus ero, (fataliter angor
Omne nefas sequitur) tamen haud mihi tantus anhelam
Deiciat mentem pavor, ut vi victus et expes
Indignantem animam tristi cum murmure fundam,


Na alquima do verso a essência linda
no aloés transmuto o denso em raro,
com rico manejo da mimese preparo,
o sol central da representação infinda.

Com ortoépia e pedante prosódia a face pia
claro como um girassol que ao sol procura.
Ao tangenciar consigo obtém de si a cura
seguir paciente rente ao ouvido de quem lia.

Tornar-se pedra dizia um poeta místico
era não ter coração ligado a nada
já que encosta mas não entrelaça.

Pensar essas coisas, que a falta do mover-se
resulta da ausência do calor, naqueles que em si
o ardor não provém de uma causa externa,
houvesse levado em conta aquele dístico.

Uma tristeza demasiada não condiz 
com a natureza humana...

Ah terras prolíficas,
de ondas caloríficas,
de mão e solo gentís.

Peito refeito sem ardís,
as velhas e toscas charnecas,
as barrocas canecas
das ânsias comuns.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Zero

Zero grau, porém, a mente inda pensa.
O frio extremo predispõe-me a inércia.
Ao sentir que sinto, surge a consciência.
Assim, a si mesma tem com a presença.

Será tornar-se pedra início da demência?
Ai de mim que ninguém terá clemência.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Canela

Através do boulevard
somos levados.
As calçadas adentram
as vitrinas.

Difícil não ser arrebatado.
O espírito forte
vê-se quebrantado.
Os pés seguem o traçado.

A consciência do flaneur
está atado a aba do boné.
É necessário a orelha cobrir,
mas o cobertor é mister

prontamente descobrir
da arada terra ao ínvio éter.

Ajoelho a terra rente o joelho
esquerdo, na rótula ao chão.
A arquitetura sacra faz do eco
interno preces ao céu elevar.

Não estou atado aos genuflexórios
por isso ando como um burguês,
apesar de não sê-lo,
tamanho é o zelo.

Canela, RS - sete de outubro de 2008.

sábado, 4 de outubro de 2008

Dia Lunes

I
A uma certa Luna
dirigi-me estrênuo.
Para dizer que só
isso é divino,

o resto é um sonho,
é memória do homem.
No embahir... de mim,
pus-me, não sei assim,

nem como terás a mim.
Sê consigo, se é afim
de te saber junto.
Com os dedos a fôrma

unto. Para preenchê-la.
A forma, dobra-se dócil.
Não há sequer ócio
a fazer mão cheia.

Nas idéias que ligo,
no oculto lido antigo
inciso vinte e dois,
parágrafo seis... a tez...

II
Esse código que refiro
foi escrito e perdido.
Logo prefiro na noite,
a luz do dia, e largo,

de lado o comparar.
Volto a decifrar
o que é dívida:
dizer o devido.

Da imagem duvido.
Riso liso e obtuso
por fazer isso que
não ouso...

Dar vez às idéias
da voz que me deras,
do pouco bastante
para preencher

cântaros de alma
a fundo, e no alento,
no sopro lento,
e de braço aberto,

faço azo ao enlace.
Quando vieres,
e se disseres,
que haveres

há de haver...
intempéries.
Sobrevenham,
ou não.


III
Não são vãos
os votos ignorados?
Nem o prolífico
ímpeto que a vela

inflama sopra certo.
Não apaga a chama
mas, rasga a carne
e costuma sangrar.

Sempre ao luar
houveram reentrâncias.
Por querer perpetuar
existências...

Dispensas as mãos ágeis.
Vê como são frágeis
os humanos desejos.
Frente aos corpos

encontram-se doces
e dóceis os corcéis que
na escalada em fúria
escapam à ária,

e a mão técnica
do artista, foge,
passa, imprevista,
pois são mais reais

que os iguais
pois são diferentes.
Fluem ardentes,
e não se deixam

fixar pelos pincéis;
o mais se queixam.
Cinzelar, não se pode,
pois, se apagam as leis.

São Paulo, quatro de outubro de 2008.

Aurigas Imortais

I
De um tipo.
Somem todas
as qualidades.
Dispersas...
As massas,
os moles,
corpúsculos em
retirada retém
em si correndo,
por veias antigas
sem remendo.

Cortas o fio do rio
à faca rude. Lauta
canta dor a flauta.
Força em expoente.
Força em face alta,
soa a voz estridente.
És breve.
Sã, refulgente,
serás prática
quer na América
ou na Ática.
Muitas são as
pátrias que há
em minh'alma.

II
Mas, calma!
Espera um pouco.
Inda ora rouco,
a voz que embarga e sola,
deito riso e rola
uma leve lágrima.

III
Excesso de rima
faz da métrica
tétrica patética.
Ou erística grima.

IV
Lado oposto
ao rosto, vejo.
O eu que vejo?
Espelho oposto.

V
Reflexo de cima:
ciência ou cisma,
vivem os debaixo
a correr tal riacho.
As pedras do leito
rendem respeito
à brevidade; inda
que não cesse, finda
a tília e funda o vau.
Se espalha... A nau
a beira do cais
é o ás.
Apressai!
Que a partida
de tua vida o cúmulo
cobra ainda fama
a quem cinge
o louro
ou de ouro
o túmulo.

São Paulo, quatro de outubro de 2008.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Índia Dois

Distantes ele muitas verstas,
do sumo da uva e as florestas,
sabia q´as impressões nestas,
perduram e não pelos séculos.

As imagens quentes destas são
ilhas que brotam as milhares.
Doces e úmidos olhares sãos
tais frases túmidas honestas.

Auspíces, lhamas, especulos,
do báculo, arúpice e espadas;
o corte traz viva alma nestas,
se são o que em si guardaram.

Pelas tintas da alma firmes
preenchem as suas ânforas,
do cosmo tempera o tempo
igual ao que encerra o ciclo.

Se ao mover-se ressoa por eras
mede em centúrias as estréias,
enquanto os barrís de carvalho
permanecem & ainda quentes.

O cimo do céu caminha

Antes no fio do corte em espadas
que se medir na cohorte espáduas.
Nos jogos nem sempre a sorte
faz corpo como destino e porte

altaneiro, inflexível e cheio,
na ponta de pés, assim veio,
sem sapato ao rés, tal pluma
de ave que ao alto avoluma.

Antes que suma sem deixar
[rastros]
e a férrea pátria deixo o lastro,
repleta de imagens possíveis.

Límpidos mananciais visíveis,
onde riscam trilha os astros,
ou na solidão em insensíveis,
[mastros].

Frederica

Frederica La Prida,
rica fidalga da prata.
Lembrada como aquela
que não desconheceu a vida.

A beleza que é rica
e não a riqueza.
À sombra, o tempo
é mais lento.

Tão grande a dor
quão vazio de alento.
Na inocência de brincar

com as palavras, finjo
que elas tem sentido.
Mas quem [as] tem sentido?

In uino ueritas

O nata mecum consule Manlio.
Seu tu querellas sive geris iocos
Seu rixam et insanos amores
Seu facilem, pia testa, somnum.
Virgílio.

Dentro soçobra a vela no sono.
Aquela que antes, loucos amores
acendem no peito e inspiram hino
ora e meia o ébrio retira rumores

de ânforas de cedro e de barro.
Verídicas as coisas que ora narro,
sucedem a finesse e o desatino,
graus há da colheita ao refino.

Quão abrasador é fogo,
tão bela em riqueza.

Não vês que o jogo visa
o múltiplo na beleza?

Na taça esvazia o corpo
o corpo é análogo ao copo.
O espírito que no ar evolui
é a alma do vinho. Imiscui

o fôlego úmido e quente
a voz do afeto silente.

Índia

Sou um índio...
Não, não sou um índio.
Vendo bem como quem
repara um erro, percebo
que a Índia está no oriente,
e eu cá, ocidente de mim,
não posso ser senão oriente,
porém, oriente de mim.

Mas o que é ser para o oriente?
Outra coisa hilária,
sou outra coisa,
quase a mesma.
Nativo, chamo-lhe.
Da natividade da natura.
Por herdade,
naquelas quintas,
fizeram ameríndia,
a mãe e a pátria;
lingua que emerge em palavra,
canta em tua toada,
cabe ver da balada
cada um como assim o enerva.
Minerva mais a cor e o sabor
da uva, ela rubi e rubra,
aquela, azul e branca,
e vermelha e preto,
o seu contorno, lento
cinzelar do artifex da natura,
que de si nos presenteia,
da aurora a outra aurora.
Não fosse isso e poentes,
sempre novos, pois lá,
o vinho e a alma guardam
consigo exímia afinidade
não se se tinha a idade.

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