Acontece, e se repetirá em poucos dias...
Pouquíssimas vezes me [eximi]
die sich in allen Fällen nimmt.
o corte
Abrirei a boca para dizer.
Irei cantá-lo como posso.
Faço da minha polegada
de chance a fim de criar;
Alteio a cítara, cordato,
& as cordas violo
ferindo diapasões no ar
os tímpanos.
"Pastores agrestes, vis infâmias e ventres só,
sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos
e sabemos, se queremos, dar a ouvir revelações"-
"Poiménes ágrauloi, kák´elénkhea, gastéres oîon,
ídmen pseúdea pollà légein etúmoisin hómoia,
ídmen d´, eut ethélômen, alethéa gerúsasthai."
Musa delirante...
insinua impávida
a discórdia e o brio,
pois,
ventre de embustes
& nobres primícias
não lhe deixam...
Ainda que não haja voz,
por morta e afetada que seja.
Tudo te louvo, desde que
muito me ensinas,
as vis infâmias, sua marca,
& os brilhos nos olhos por não viver
vida que preste [atenção].
Andar, falar e pensar: são setas.
Tirar o que impede do caminho,
remover, reduzir a cinzas, soprar.
Quem fala por outrem não sabe os riscos que corre.
Quem fala por outrem já nem sabe o que fala.
É sempre bom especular sobre a promessa de um ateísmo,
de outro modo fica-se sem adversários.
Não apenas sei como gero valores até mesmo dormindo.
A bela mora ao lado do grotesco, tosco, tacanho,
é o recalque de sua criancice.
Porque as coisas fisicamente não se toquem,
quando tudo é impeço e espaço,
gosto de seus textos e do seu desespero;
desperto a Fera que há em seu peito,
não a que aparece lá fora,
de maneira inconveniente,
querendo-nos roubar o sossego de uma solidão seletiva.
O que mais explícito
[para que não] seja claro para o néscio,
para mim,
denuncia motivos subterrâneos.
Se pudéssemos desenhando ir
uma imagem do devir,
isto seja, do movimento ordenado,
esta imagem seria eu.
"Lembra-te...
nos dias de tua mocidade,
antes que se te acheguem
os dias do mal,
em que dirás:
'neles não tenho prazer algum'
Antes que
o fio de prata se rompa
& a taça de ouro se parta..."
Abra a porta e vá entrando,
Eu me proporcionei.
Agora a ti me dirijo:
O teu sorriso me convenceu.
A lua era vista por côncavas
mínguas, salientes a arestas.
Crepitastes madrugadora
& vermelhidão da aurora
espalhou-se,
a mesma vinha que ora doura
no crepúsculo retraístes.
Cientes todos que os corpos
rigorosamente não se tocam,
os jovens que
desejam burlar as leis da física
na fricção incessante e sentida
acendem a lareira silenciosa
na resistência contrária ao fluxo.
Ó meus amados ossos,
que nem são meus exceto
pelos sete anos que os trago,
vive o dia como rangem!
Ao fio
sente-se os frios do outono
as colunas
& calor amenos,
A medula licorosa.
Langorosa melodia,
Células de um só dia,
que te as une a mim?
Curumim, quem te deu a face linda?
Rouxinol de asas douradas quê as uniu?
Não desperdiço uma gota
Do que me permite.
Ó vermelhos é minha febre,
únicas coisas que me sabem
os estados de alma únicos,
o lavor de minhas túnicas.
Minhas malhas de espécies
Memoriosas, Escarmento.
Para a saúde dos lábios
o beijo artístico elástico.
Tabuleiro de runas desmanchado,
Nas sem fim fraturas;
Futuras ruínas do anfiteatro,
o porvir é questão de tempo.
Molda o epitélio tecido plástico
que é teu imaginar o sonho da matéria...
O devir afeito é ao sonhar,
& sem dormir do mesmo modo,
trago do oceano magnético
o molde da substância que nem o é,
tanto o seja uma entidade de todas qualidades:
tocável e não, visível e não, crível e não,
amável e viva.
O pouco atrabilário
Limite escaldério que
Não me houver de ver
é via para o prazer do oposto,
a lira e o arco quando lhe tanjo
o ângulo da corda.
Dor e morte e vida e deleite
de um extremo a outro do arco.
Dê-me as mãos para beijar-lhas,
ao clarão da lareira
tu quando dai-me lírios...
A vantagem do corpo
é não ter fim o renovar-se.
Que na tua vida de tudo tenhas vinte.
Vinte anos, poemas de cor,
técnicas e saberes,
vinhas e cores,
misturas e toques.
Flexões & abdômen,
o dólmen rijo
de cento e vinte flexões.
Irrompo as membranas
Que antecedem o sol,
& erijo no topo o broto
Pela respiração e influxos
Que coadunam a rigidez macia do sexo.
As pernas a vinte quilômetros por ora,
& pelo menos o dobro de rota diária,
O derredor acometido freme...
Ao revérbero de meus passos.
Aos andrajos, sustos aos enganos,
Os que me não suportam.
Quem é firme balanceia
& quem titubear tombará;
A!
Ao público,
O nome da revista inspira-se e visa recuperar os motivos da revista lusa Orpheu, editada por Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro, a partir de 1912. Os jovens promissores a frente da revista partiram de uma inquietação contra as convenções classistas e classicistas, nós, por outro lado, partimos do descontentamento com a ignara casta de nossos contemporâneos que nada lêem e apenas perpetuam o establishment. Visamos à erradicação, através da crítica virulenta e do silêncio escarnecedor, de todas as formas tacanhas e parasitárias. A violência lingüística e o rigor são então as premissas de nossa qualidade crítica e produtiva. Em Filosofia e Arte, é preciso o instante destrutivo, para limpar caminho para a criação e o novo. Seguindo essa premissa, o tema “Surgimento da Filosofia”, nos permitirá salvar a antiguidade das incompreensões e realizar, para o público, o nosso conceito de Filosofia e Arte desde os antigos. Cientes de que a força não se dá, toma-se, ocupamos há algum tempo os espaços públicos, em que muitos quedaram estáticos, e ousamos nos fazer saber, através da palavra. Os que são pródigos dela, não percebem que todo proferir é errar às coisas. Que todo ato de fala deve ser artístico, por princípio. O saber é uno, a linguagem é que vela a realidade com as idiossincrasias individuais, toscas e enfadonhas.
A nobre simplicidade e a grandeza são nosso estilo, por excelência. Destinamos a nossa mensagem não às massas, antes exterminá-las conceitualmente, mas ao verdadeiro círculo artístico e filosófico, necessariamente restritos. Não se devem profanar as empresas como a nossa, de tão sublimes propósitos, com uma exposição inútil e prematura ao desagrado da plebe, que nada entende e tudo condena.
O conteúdo da revista versa sobre o título simbólico de Orpheu, patrono da Filosofia, das Artes e da Religião dos Rituais Iniciáticos. Prepara os movimentos de escalada, de apoteose lingüística, do acúmen com que a acuidade visual ou estética, coadunada com a visão intelectual das coisas, em unidade discordante de si mesma, que antecipam a descida do poeta aos infernos.
Parafraseando Goethe, no edital de sua revista Propileus, somos “amigos unidos harmoniosamente” [ou não], destinados os olhares às grandes e pequenas coisas autênticas, a natureza, a arte e a filosofia, em atenção aos artistas, os dignos produtores de tesouros no interior da língua, observadores ativos, isto é, espreitadores que nascem e nutrem-se com luz do dia e o reflexo da noite, no emprego prático de suas partes às comunicações, das constelações entre si. Evitamos a unilateralidade e a bitola, perigo freqüente contido em toda a ideologia totalitária; visamos à diluição da unidade, através das ligações qualitativamente distintas de seres diferentes, complexos, e únicos, e a reconstrução da unidade, mediada pelas descobertas públicas e, ou, particulares, dos elos que permitem aperfeiçoar as pessoas, com a vantagem do diálogo. Correspondemo-nos por escrito, o que já fora feito em ambiente da viva palavra; nossos ensaios e artigos visam estabelecer essa relação do escritor, que a fonte seja inesgotável, com o público, receptáculos febris a que destinará seu nobre vinho.
Em épocas de ausência de todos os valores eternos e profundos sobre os quais a humanidade sonhou e parece inerte, estamos ávidos, e criamos, em nossas sessões de trabalho, aos valores que nos guiam a vida.
Aos fortes o direito e a justiça. Aos hipócritas, o afogar-se em seu próprio nada.
Específicos universos
onde o pó erguido da terra,
pela água e pelo sopro
da alegria fizera o élan...
do vermelho que chama
distorção em pleno ar...
verti cores eletrostáticas,
mas fiz rio de mim no sol
a pino que me traz o lustre...
... fui à rua traçar sombras.
& pelo mar de asfalto
aberto, negro sangue
& caravelas de ouro
saqueado..., El-dourado,
Carajás, que o progresso
do material não me cesse
& enquanto não mais sejamos
servos de outros amos,
nesse grande Hotel
universal & soturno
de nossos frenéticos
enganos...
Ferirei aos febris públicos.
O mesmo sol-verão,
que a tudo o que há
de mais belo reluz,
& traz a tona,
ao subterrâneo
reduz & encapela
no túmulo de qualquer
caverna.
Os fortes
sobreviverão
ao sol.
Escravos à corvéia,
aos ousados a colméia.
Tantas vezes gamei
De lícitos versos,
Como deixei contrários
O mais complexo dos perversos.
Amei completo o avesso
O oceano seleto de águas
Que é o meu abrigo
E fonte para meu verso.
Corra pela esteira solar
Ou pelo grande rio
Da linda noite
Sinta o frio açoite
Que meu imenso desvario
Soube ao pobre ânimo imolar.
O enfado do teu nome
Vem do pobre renque
De teus ricos traços.
Quer não tenhas dique
Diluis & Secas...
Que não tens força.
Como poièsis re phýsis
É o espelho de tuas vestes
[kédyma phôs]
Como duplo & outro
Que não tivestes:
Vives para que ta não recuse.
Força apenas Há.
O poder verte
Na direção da desídia
De ti que não te krísis.
Gafanhoto à sombra:
Democracia & mercado
Aliena & escorre a vida
Até que te frise a basta,
& como embuste, teu real.
“A justiça é a conveniência do mais forte”
– Platão, República I.
O forte deve reger.
Há sobre isso qualquer dúvida?
O forte é o justo:
Senhor & império,
Ser é o melhor
& governar,
Para não o ser
Por um infame.
Seletivo,
Faço de meu passo
O motivo constante.
Como o fio cortante
Da espaça trespasso
E atravesso de braçada
O peito dos infectos.
Cinco deles,
Dentre tantos [e o que é em grande número tem geralmente, conotação negativa]
Essa semana
Apodaram-Me
Daimónion!
Muitas quiseram
Quando apenas poucas,
As sinceras,
Coroavam-me
O deleite
Com alvacenta ambrosia
& telúrico hidromel.
Sozinho reste apenas o cão sedento,
Antiga musa.