sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Tales (Parte I)

Desde essa manhã eu penso ter me aproximado, significativamente do que dissera e quisera dizer Tales. Se precisas de um contexto, estava eu na praia. Desejo refletir sobre a relação tempo, memória e linguagem, dado que os movimentos qualitativos da vida e diferenciais no que diz respeito a minha, me levaram a pensar a vida nunca fora de isto ser, ser dito e ser pensado, pressupõe a relação ser, dizer e pensar. Para ser é preciso que a dinâmica denotada por esse conceito inclua o afetar e o ser afetado, vozes ativas e passivas do gênio da língua, o que fala através das ações, que são vínculos e relações entre entidades operadas por aquele que conhece, e não seríamos inclusivos se não falássemos daquilo que suporta movimento e repouso, os contrários, o prazer e a dor, desde que cada um deles é e ambos são, no relacionar-se com o ser, modo como tomam parte dos sentidos ambíguos, e cheios de dobras que a predicação prega na esfera unitária que o horizonte, particípio ativo em que o indivíduo delimita e o que produz com isso é o conceito. Partindo da imagem em movimento visível na tela do cinema, pergunto eu a ti, a linguagem é mediação para nomes e coisas através de signos que apontam referentes e sinalizam esta ou aquela dobra, ou a linguagem é imediata, e os espíritos se comunicam diretamente numa dimensão que faz do efluxo vocal a manifestação indireta do que se pensou dizer? Essa última hipótese não deveria caber na pergunta. O fato é que na cena do filme o colecionador americano tinha como interlocutora uma croata senhora da morte, da memória e do retorno, da eslava gente e basca língua, sóis, tons e cores. Já não basta ter-se em comum a terra e o corpo? Eles que não falam a mesma língua, num momento de ter-se com os olhos puderam prescindir do mediador que lhes fizera até aí a tradução das vírgulas, acrescentando-lhes os ponteiros do pêndulo e omitindo as ênfases. Os gestos falam a língua secreta dos sonhos. O corpo é hábito de gesticular cerimonioso. Também é templo, embaixada e engate, fortaleza inexpugnável do justo, franqueada tão somente a justiça. É o que permite soltarem-se as mãos quando é chegada a hora. Falemos do tempo. O que é ‘o que’ diremos? Tem o tempo substância e, ou, existência? Não direi com as palavras de Agostinho. Pintarei a imagem do eterno retorno, a metáfora que é mais antiga que Pitágoras.

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