Ao público,
O nome da revista inspira-se e visa recuperar os motivos da revista lusa Orpheu, editada por Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro, a partir de 1912. Os jovens promissores a frente da revista partiram de uma inquietação contra as convenções classistas e classicistas, nós, por outro lado, partimos do descontentamento com a ignara casta de nossos contemporâneos que nada lêem e apenas perpetuam o establishment. Visamos à erradicação, através da crítica virulenta e do silêncio escarnecedor, de todas as formas tacanhas e parasitárias. A violência lingüística e o rigor são então as premissas de nossa qualidade crítica e produtiva. Em Filosofia e Arte, é preciso o instante destrutivo, para limpar caminho para a criação e o novo. Seguindo essa premissa, o tema “Surgimento da Filosofia”, nos permitirá salvar a antiguidade das incompreensões e realizar, para o público, o nosso conceito de Filosofia e Arte desde os antigos. Cientes de que a força não se dá, toma-se, ocupamos há algum tempo os espaços públicos, em que muitos quedaram estáticos, e ousamos nos fazer saber, através da palavra. Os que são pródigos dela, não percebem que todo proferir é errar às coisas. Que todo ato de fala deve ser artístico, por princípio. O saber é uno, a linguagem é que vela a realidade com as idiossincrasias individuais, toscas e enfadonhas.
A nobre simplicidade e a grandeza são nosso estilo, por excelência. Destinamos a nossa mensagem não às massas, antes exterminá-las conceitualmente, mas ao verdadeiro círculo artístico e filosófico, necessariamente restritos. Não se devem profanar as empresas como a nossa, de tão sublimes propósitos, com uma exposição inútil e prematura ao desagrado da plebe, que nada entende e tudo condena.
O conteúdo da revista versa sobre o título simbólico de Orpheu, patrono da Filosofia, das Artes e da Religião dos Rituais Iniciáticos. Prepara os movimentos de escalada, de apoteose lingüística, do acúmen com que a acuidade visual ou estética, coadunada com a visão intelectual das coisas, em unidade discordante de si mesma, que antecipam a descida do poeta aos infernos.
Parafraseando Goethe, no edital de sua revista Propileus, somos “amigos unidos harmoniosamente” [ou não], destinados os olhares às grandes e pequenas coisas autênticas, a natureza, a arte e a filosofia, em atenção aos artistas, os dignos produtores de tesouros no interior da língua, observadores ativos, isto é, espreitadores que nascem e nutrem-se com luz do dia e o reflexo da noite, no emprego prático de suas partes às comunicações, das constelações entre si. Evitamos a unilateralidade e a bitola, perigo freqüente contido em toda a ideologia totalitária; visamos à diluição da unidade, através das ligações qualitativamente distintas de seres diferentes, complexos, e únicos, e a reconstrução da unidade, mediada pelas descobertas públicas e, ou, particulares, dos elos que permitem aperfeiçoar as pessoas, com a vantagem do diálogo. Correspondemo-nos por escrito, o que já fora feito em ambiente da viva palavra; nossos ensaios e artigos visam estabelecer essa relação do escritor, que a fonte seja inesgotável, com o público, receptáculos febris a que destinará seu nobre vinho.
Em épocas de ausência de todos os valores eternos e profundos sobre os quais a humanidade sonhou e parece inerte, estamos ávidos, e criamos, em nossas sessões de trabalho, aos valores que nos guiam a vida.
Aos fortes o direito e a justiça. Aos hipócritas, o afogar-se em seu próprio nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário