terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mar

A existência é um mar.

Falo do mar, pois toda fala é falta.
Assim, busco o entendimento,
pois de outro modo, religião.
A literatura deve-se ao mínimo contato,
excetuando a total consubstanciação,
o que é impossível,
enquanto a religião,
união pura,
não deve nada a outrem.

O oceano é pai dos deuses,
e mãe terra, dera origem aos homens,
uma vez que não há outros deuses
senão aqueles na medida do Homem.

O primeiro Homem, por conseguinte é Deus.

O vento traz o mar a terra, sua prometida.
Para além do oceano o ilimitado,
carente por delimitar-se,
confunde-se com nada,
que nada é além de coletivo da indeterminação.
Isto posto, tudo o que delimita, é.

Em busca de reconciliar-me
com o movimento primitivo,
saio do mar e vindo aportar na terra,
tendo visos de totalidade
que não se pode abarcar,
tomo o barco que é minha visão estreita
& remo, não ermo.
Que me importa não o ver a tudo,
se a seleção é que importa?
Ver é hierarquizar.

A noite, seus dedos intangíveis,
a escuridão, e o frio que dá na alma
vêm a minha face tocar,
a ventania não permite ao mar sossego,
eis sua maldição: o contínuo movimento.
Queria ele descansar, não dorme,
e eis também a inveja que o afeta às suas criaturas.
Curioso, o mar se pôs ao largo,
e em ondas vem beijar sua amada.

Dirijo-me o mais que posso ao longe.
Lá chegando, amaino as velas.
Como asas que se fecham,
em busca de aquecer ao mastro
que contra a noite fria se lança,
fecho os olhos, e a embarcação balouça.
O equilíbrio depende do que é ouvido,
não determinar distâncias em meio ao mar
é idiotice, as estrelas nem sempre nos contam
em sua língua cósmica tremeluzente
através do marulho do mar incerto,
reflexo de sua extensão fremente.

Ainda com os olhos fechados,
algo pesa sobre o meu ombro.
Esse constelado olhar penetrante,
a quem se designou assustar?
Cicia o vento o mar,
desatado, em nada surdo.
As ondulações chocam-se
com o pobre barco a vel
a que pretende se expandir.
A respiração é para o ar
o que a chaminé é para a lareira...
Abro os olhos.

Cheio de mim, quase me basto.
Indiferença é estupidez e desgaste
dos engates.

A vastidão é medida
pelo marulho
& o vento que se alastra,
para todos os lados, ladeia,
fareja e afasta-me também de mim.
A minha pretensão a divindade,
desde que solitária,
desde que tudo
penetrando pelos sentidos
se confundem, e não cessa.
Nesse instante crio o Homem.

Preciso de um espelho.
Eis que lembro-me da Lua.

Ela delimita as minhas pretensões
a ser um com o Todo,
pois devolve-me os limites,
e minhas cadeias aperta,
com suas críticas injustificáveis,
como quem não me conhece,
tão justas.

Desfraldo as velas.
Devo ter com ela antes o fim da tarde.
Ela, iracunda, não me perdoará o atraso.
Guardará o jantar,
e também não se entregará,
exceto com violência,
para compensar a falta de cortesia.

O sol rosado fende a nuvem que torna ser branca.
As nuvens que ao horizonte encapelam
são uma oração
& emblema do pensamento
que se reflete no mar nas grandes vagas
e nas convexidades da Lua.

Azul de elucubrar imagens toscas,
farto de cópias postergadas,
roxo de resistir ao açoite de seu corpo,
vermelho a face de suas palavras,
ela lânguida toma-me o espelho
seu direito conexo de compartir
de meu poder luminoso.

Seu sorriso é qual uma manhã
que se colore farta
& referta em paleta imponente.
Silenciosa a sazão retém a colheita seleta.
No pano de fundo onde se atrelam
em um tempo abismal as estrelas,
deu-se o atrevido a fazer corarem todas elas,
& até hoje,
alternam-se as cores, suas,
em sim e não de empréstimo,
às representações de meus estados de alma
com o gênio do ânimo meu.

Tudo se deve ao sal e o mercúrio filosófico.

Um comentário:

matheus de brito disse...

"lugar-comum e mal escrito" e "homoerótico no mínimo", é o que diria se quisesse manter as ofensinhas no nível de alguém muito bem educado, ao menos para os sete anos de idade.

mas, sinceramente, só tenho a pedir que não me venhas com merdas se não tiveres nada melhor a dizer. podes dizer, na boa, e ofender, se conseguires que te leve a sério. mas não me venhas com palavrinhas óbvias. se as quisesse, virava leitor assíduo dessas tuas "coisas".

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