quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Hedonismo II

O meu doar-se não é como o do moderno hedonista.
Não é uma compensação
(nas palavras do meu principal interlocutor)
para uma falta.
Não quero expor meu corpo
[grosseiramente]
a elevadas condições
de tempo, espaço e pressão,
dissonâncias, combustão,
agressão, frutos da apatia
& do não saber em que consiste
o que é gozado;
[porque não saiba afinar as frequências
e trabalhar no ritmo e nas velocidades...
na sanha desavinda de desejar
o morre cedo, não ingresso
& me afasto para o forte e vivo.

Estou presente apenas onde estou de todo,
alí me faço, e me doo no meu melhor,
no que digo por estar inteiro,
não ébrio de pobre [retórica sensista]
não poder unir o que é belo unir
[mudo e surdo à peripécia
da criança luzente que é a natureza,
na inércia asséptica do esteta].

O mover-se muito não é mover-se melhor.
O melhor depende de sua infinita seleção.

É preciso experimentar aquilo que é
o mais prazeiroso, dizia Epicuro,
& tornar-se senhor do que é mais forte
não como quem precise disto fruir
a todo instante, pois gozar
é não saber o que é gozado.
O único saciar-se seria o saber.
O que nos diz que a saidade
é não haver o que sacia a ânsia
que desembainha o coração ao peito.

A Hybris!
O que os tolos que a buscaram nunca foram,
isto que é, o que se tende a visar é o visível,
aquilo mesmo que permite ver,
assim o olho não pode ver o ser-visto,
exceto que sejas o outrem do agora suceder.

Nem sequer acredito nos jovens,
nem em meus contemporâneos,
nem daqueles que não conseguem
expressar o que pensam em português,
alto, claro e belo de difícil.

Subterfúgios e trejeitos afetados são
os artifícios espectrais dos não-seres.

O que é a sede para a sede?
E a sede para o ter-se fome?
O que é necessário e o que contingente?

O capitalismo só não conseguiu colonizar
o mundo onírico e o sonhar, última divisa
íntima já que a civilização é um conjunto
de mínima extensão perante o inato,
o instinto.

Só não amo tanto o que sozinho sou
como o que é também teu,
ó tu que realmente importa!

As palavras importam dez vezes menos
que o saber sentir,
cobrem-te apenas a beleza como adorno,
embeber-lhe e mel
& sorver-te tal laboriosa abelha
versada em seus haveres.

Sou feliz a cada giro atual em que
Passo a habitar-lhe a imagem.

4 comentários:

matheus de brito disse...

re-(s)sentido? foste bem, eu até gostei da piada. so (r)riso.

matheus de brito disse...

fora isso, gostei de ser tua musa. beijinhos.

Hórus disse...

Pressinto movimentos subterrâneos de fuga do estabelecido.

matheus de brito disse...

pareces-me boa pessoa.

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