O meu doar-se não é como o do moderno hedonista.
Não é uma compensação
(nas palavras do meu principal interlocutor)
para uma falta.
Não quero expor meu corpo
[grosseiramente]
a elevadas condições
de tempo, espaço e pressão,
dissonâncias, combustão,
agressão, frutos da apatia
& do não saber em que consiste
o que é gozado;
[porque não saiba afinar as frequências
e trabalhar no ritmo e nas velocidades...
na sanha desavinda de desejar
o morre cedo, não ingresso
& me afasto para o forte e vivo.
Estou presente apenas onde estou de todo,
alí me faço, e me doo no meu melhor,
no que digo por estar inteiro,
não ébrio de pobre [retórica sensista]
não poder unir o que é belo unir
[mudo e surdo à peripécia
da criança luzente que é a natureza,
na inércia asséptica do esteta].
O mover-se muito não é mover-se melhor.
O melhor depende de sua infinita seleção.
É preciso experimentar aquilo que é
o mais prazeiroso, dizia Epicuro,
& tornar-se senhor do que é mais forte
não como quem precise disto fruir
a todo instante, pois gozar
é não saber o que é gozado.
O único saciar-se seria o saber.
O que nos diz que a saidade
é não haver o que sacia a ânsia
que desembainha o coração ao peito.
A Hybris!
O que os tolos que a buscaram nunca foram,
isto que é, o que se tende a visar é o visível,
aquilo mesmo que permite ver,
assim o olho não pode ver o ser-visto,
exceto que sejas o outrem do agora suceder.
Nem sequer acredito nos jovens,
nem em meus contemporâneos,
nem daqueles que não conseguem
expressar o que pensam em português,
alto, claro e belo de difícil.
Subterfúgios e trejeitos afetados são
os artifícios espectrais dos não-seres.
O que é a sede para a sede?
E a sede para o ter-se fome?
O que é necessário e o que contingente?
O capitalismo só não conseguiu colonizar
o mundo onírico e o sonhar, última divisa
íntima já que a civilização é um conjunto
de mínima extensão perante o inato,
o instinto.
Só não amo tanto o que sozinho sou
como o que é também teu,
ó tu que realmente importa!
As palavras importam dez vezes menos
que o saber sentir,
cobrem-te apenas a beleza como adorno,
embeber-lhe e mel
& sorver-te tal laboriosa abelha
versada em seus haveres.
Sou feliz a cada giro atual em que
Passo a habitar-lhe a imagem.
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4 comentários:
re-(s)sentido? foste bem, eu até gostei da piada. so (r)riso.
fora isso, gostei de ser tua musa. beijinhos.
Pressinto movimentos subterrâneos de fuga do estabelecido.
pareces-me boa pessoa.
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